Construção sustentável - muitos anos de vida
O processo de certificação de um prédio verde aumenta o custo de uma obra em até 10%. Mas a valorização no médio prazo e a economia de recursos e manutenção compensam em dobro o investimento

Para garantir que os princípios da construção sustentável sejam aplicados corretamente, entidades do mercado desenvolveram os processos de certificação.
Na prática, o sistema se encarrega de avaliar e reconhecer as soluções e tecnologias sustentáveis adotadas no projeto e na obra para reduzir os problemas ambientais e também sociais de uma edificação.
Entre os vários selos já criados em todo o mundo, dois se destacam no Brasil – o selo internacional LEED, do GBC, e o nacional Aqua, da Fundação Vanzolini.
Selo LEED, meta das grandes obras
O Brasil deslanchou na busca da certificação LEED (sigla em inglês para liderança em energia e design ambiental) com o interesse das grandes construtoras e a exigência estabelecida pelo governo para a construção ou adaptação das obras para a Copa do Mundo e Olimpíadas.
Considerado o mais importante selo do segmento no mundo, o LEED se difundiu em cerca de 150 países. No Brasil, serviu de parâmetro para obras ou restaurações como os estádios Maracanã e Mineirão; o Museu de Artes do Rio de Janeiro; e o Complexo Comercial Rochaverá, em São Paulo. Pelo grau de exigências, o LEED destina-se mais a grandes obras.
O cumprimento das exigências de certificação pode acarretar um aumento de 30% no prazo de entrega da obra, de acordo com os dados da representação do GBC no Brasil. Mesmo assim, tem sido crescente a procura pelo LEED, organizado em oito categorias destinadas a segmentos específicos da construção civil, como construção de grandes obras, reformas, instituições de saúde e lojas.
Para garantir a homologação, a construtora precisa trazer junto seus fornecedores grandes e pequenos e garantir a aprovação de sete critérios, entre os quais o uso racional da água, eficiência energética e qualidade dos ambientes internos.
O primeiro edifício corporativo de grande porte a obter a pontuação máxima com o selo LEED Platinum, concedido em 2009, foi o Eldorado Business Tower, em São Paulo, construído pela Gafisa. A obra cumpriu uma extensa lista de exigências, chegando a detalhamentos como ‘especificação de paisagismo com espécies de plantas nativas e adaptadas ao clima local, por consumirem menos água’. Esse ano, o edifício comercial Thera Corporate, também na capital paulista e construído pela Cyrella, recebeu a pré-certificação LEED Gold.
Entre as obras de menor porte a obter o selo, destaca-se o projeto de adaptação da sede da Câmara Americana de Comércio (Amcham), em São Paulo. As medidas de eficiência energética e ambiental implantadas resultaram em economia de 30% no consumo de energia e 35% no de água, entre outros benefícios.
Selo Aqua, com jeito brasileiro
Para atender às demandas brasileiras e suas características, a Fundação Vanzolini desenvolveu e lançou em 2008 o selo Alta Qualidade Ambiental (Aqua), inspirado no sistema de certificação adotado na França. A instituição está vinculada ao Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP.
Em relação ao LEED, o processo do Aqua se diferencia por utilizar auditorias presenciais ao longo de todo o período de desenvolvimento da obra e levar em conta o conforto dos usuários e as condições de longevidade do empreendimento.
São 14 itens exigíveis, entre os quais o canteiro de obras de baixo impacto ambiental, conforto térmico e olfativo e qualidade sanitária do ar. Até 2014, a Fundação Vanzolini certificou 147 empreendimentos em todo o país, entre os quais o Riomar Shopping em Recife e em Fortaleza, as lojas da rede Leroy Merlin e o Instituto de Oncologia do Hospital Santa Paula, em São Paulo.
O Aqua foi o selo escolhido pela construtora Even para assegurar as práticas de sustentabilidade nos seus projetos. Entre as 101 obras concluídas pela empresa, 42 empreendimentos estão em uma das fases de certificação. A construtora investiu em um programa de fornecedores para fortalecer sua qualificação.
(Com reportagem e pesquisa de BiankaSaccoman)