"Não existe competição entre agricultura alimentar e energética no Brasil"
Em reunião do Conselho do Agronegócio, da ACSP, o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, destacou a singularidade do modelo de produção desenvolvido no agro brasileiro

O modelo de produção desenvolvido no agro brasileiro, que permite a integração ganha-ganha entre as diversas cadeias produtivas, possibilita uma virtuosa combinação entre agricultura alimentar e energética sem qualquer disputa por área, diferentemente do que ocorre, por exemplo, na Europa.
A análise foi feita pelo presidente da DATAGRO e do Instituto Brasileiro de Bioenergia e Bioeconomia, Plinio Nastari, durante reunião do Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), realizada nesta segunda-feira, 28/8, em formato híbrido, sendo o presencial na sede da entidade na capital paulista.
Coordenado por Cesario Ramalho, o Conselho do Agro da ACSP tem como objetivo propor reflexões, que possam endereçar políticas públicas e modelos de desenvolvimento, para o agro brasileiro.
Na reunião, liderada pelo presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine, Nastari acentuou que o desenvolvimento do agro nacional, que produz simultaneamente commodities e produtos de elevado valor agregado, tanto alimentares, quanto energéticos, além de fibras, tem potencial para alavancar um novo ciclo de reindustrialização do país.
Segundo o palestrante, desde 1975, a produção brasileira de grãos cresceu de 46,9 milhões de toneladas para 317,5 milhões, e a área cultivada aumentou bem menos, de 37,3 milhões de hectares para 76,6 milhões no ano passado.
Entre alguns exemplos desta avançada intersecção do setor produtivo rural com elos industriais, Nastari elencou a sinergia entre grãos, carnes e biocombustíveis, onde, por exemplo, soja e milho são usados para alimentação animal e produção de biodiesel; a cana-de-açúcar, que além do adoçante natural é matéria-prima para fabricação de etanol e energia elétrica limpa e renovável; a integração-lavoura-pecuária-floresta, que agrega ao processo a silvicultura [produção de madeira]; e assim por diante.
"Como observamos, no Brasil a competição entre alimentos e energia acaba sendo uma falácia", ressaltou.
FORÇA DA CANA
Especialista renomado no segmento sucroenergético, Nastari discorreu sobre diversas oportunidades que vêm despontando para o uso da cana, em especial no âmbito energético.
Além do etanol e da bioeletricidade (geração de energia elétrica a partir da palha e do bagaço), ele citou o biogás/biometano, pellets em substituição ao carvão mineral, bioplásticos, produtos bioquímicos e a produção de hidrogênio verde.
Neste aspecto, Nastari ressaltou a transversalidade do etanol como combustível líquido limpo e renovável como item-chave para novas tecnologias de mobilidade sustentável rodoviária, marítima e na aviação.
Segundo ele, do ponto de vista de eficiência energética e ambiental, considerando o conceito do poço à roda, o etanol é a melhor alternativa se comparado, por exemplo, aos carros elétricos. "De nada adianta um veículo eletrificado abastecido na tomada com energia de uma fonte suja."
INFRAESTRUTURA
Ao final do encontro, Nastari e Ramalho alertaram para o gargalo de infraestutura logística de transportes e armazenagem, que prejudica de sobremaneira a competitividade do agro brasileiro, e que o setor precisa de melhores condições de crédito - novas linhas de financiamento - para avançar nesta questão. Ademais, ambos salientaram que o agro brasileiro também precisa investir na criação de uma certificação oficial, que ateste internacionalmente, a qualidade e sustentabilidade do produto agropecuário do país.
IMAGEM: Divulgação/ACSP