População é favorável às concessões de parques para a iniciativa privada
Pesquisa do Instituto Semeia revela que maioria da população acredita que se os parques urbanos (como o Ibirapuera, da foto acima) e naturais estivessem nas mãos da iniciativa privada, seria mais fácil que melhorias fossem implantadas
O mais conhecido parque da capital paulista, o Ibirapuera, foi recentemente concedido à iniciativa privada. Pelo contrato, a empresa vencedora da licitação ficará responsável tanto pela gestão quanto pela manutenção, operação e investimentos na infraestrutura do equipamento. Em troca, ela poderá explorar comercialmente o parque e suas atrações.
Esse modelo de gestão de parques, tanto naturais quanto urbanos, é considerado positivo pela maioria dos brasileiros. É o que aponta o estudo de tendências “Parques no Brasil – Percepções da População”, realizado pelo Instituto Semeia, organização sem fins lucrativos que atua no desenvolvimento de projetos para a conservação ambiental e na articulação entre o setor público e privado para aplicação de modelos de gestão sustentáveis em áreas protegidas.
O levantamento foi realizado no segundo semestre de 2019 e ouviu 1.198 homens e mulheres de 16 a 70 anos de seis regiões metropolitanas – Brasília, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
ACEITAÇÃO
Segundo dados do estudo, 53% dos entrevistados são favoráveis aos modelos de concessão e parcerias público-privadas (PPPs) para a gestão de parques naturais, áreas demarcadas de conservação geralmente mais afastadas dos centros urbanos. Em relação aos parques urbanos, dentro das cidades, essa taxa de aceitação sobe para 64%.
Na opinião do diretor-presidente do Instituto Semeia, Fernando Pieroni, “existe uma aceitação crescente da sociedade para as parcerias em parques e que, atualmente, elas estão concentradas nos modelos de concessão. Mas a evolução dessa agenda requer o amadurecimento das possibilidades deste instrumento, pois os parques são distintos entre si”.

Ainda em relação a concessões, o levantamento também revelou que há uma perspectiva de melhoria nos espaços com a implementação desses modelos de gestão, tanto em parques naturais quanto em urbanos.
Para os parques naturais, a expectativa de melhoria se concentra em atividades de limpeza (73%), iluminação (71%) e segurança (71%).
Nos parques urbanos, os entrevistados disseram esperar melhores condições em atividades de iluminação (78%), limpeza (77%), equipamentos de lazer (75%) e segurança e banheiros (75%).
“O que temos visto no Brasil é um número crescente de programas de parcerias em parques. Entender os hábitos e os anseios da população é fundamental para modelar bons projetos”, avaliou Pieroni.
Em todo o território brasileiro, segundo dados do Semeia, atualmente existem 102 parques federais, estaduais e municipais em diferentes etapas do ciclo de um projeto de parceria com a iniciativa privada.
Alguns ainda se encontram na fase de estudos e planejamento pelas entidades responsáveis, enquanto que outros já estão em fase de licitação ou prontos para a assinatura de contrato com a iniciativa privada.
“É importante salientar que concessões e parcerias não são privatizações. Além disso, há diversas modalidades de parcerias para a gestão de parques. O fundamental nesse processo é o diálogo entre sociedade, governo e iniciativa privada. Só assim teremos desenvolvimento econômico, conservação da biodiversidade e geração de renda para o País”, afirmou o diretor-presidente do Semeia.
FREQUÊNCIA, ATRATIVOS E ENTRAVES
Entre os assuntos abordados na pesquisa está o hábito de frequência nos parques em geral. Em relação aos parques naturais, 26% dos entrevistados afirmaram visitar esporadicamente esses locais, enquanto que 36% nunca visitaram, principalmente devido ao custo da viagem (47%), custo de hospedagem (29%) e distância (18%).
Quando considerados os parques urbanos, mais próximos de suas residências, os números diferem dos parques naturais. 50% dos entrevistados visitam esporadicamente esses espaços, enquanto que apenas 17% nunca visitaram.
Os principais entraves à visitação, além da distância e hábitos culturais, relacionam-se a aspectos de gestão e zeladoria, como segurança (17%), banheiros e instalações ruins (10%).
“Há uma expectativa da sociedade, na maioria das vezes, por aprimoramentos básicos, como nos banheiros e na iluminação. As pessoas querem frequentar espaços bem cuidados”, destacou Pieroni.
Para alcançar esses objetivos, complementa o executivo, é necessária ainda a construção de uma política de Estado abrangente, que vai além da pasta de meio ambiente.
“A visitação dos parques requer um olhar mais amplo que envolve aspectos relacionados a transporte, turismo e, no caso dos parques naturais, até mesmo políticas de desenvolvimento regional”, afirmou.
IBIRAPUERA
O modelo de concessão do Parque do Ibirapuera, na opinião de Pieroni, é um exemplo interessante que pode servir para outros equipamentos. A concessionária não poderá cobrar pela entrada dos cidadãos que desejam usar o parque. No entanto, poderá cobrar por estacionamento e controlar lanchonetes, vestiários e outros equipamentos no parque.
A empresa pagou R$ 70,5 milhões pela concessão e promete investir outros R$ 167 milhões em 35 anos, período da concessão.
“O modelo escolhido foi o mais adequado possível. A empresa que assumiu a concessão terá também de assumir antes a gestão de outros cinco parques em regiões mais afastadas e menos favorecidas. Agora precisamos acompanhar de perto a execução para verificar se a concessionária cumprirá com todos os pontos previstos no contrato”, concluiu.
IMAGEM: Divulgação