Estamos presenciando o fim da Balenciaga?
Em mais uma polêmica, a nova campanha da marca espanhola traz imagens de crianças em contextos sexuais e gera revolta nas redes sociais, que colocam em xeque um dos nomes da moda mais influentes do momento

Tudo parecia ser uma campanha de fim de ano comum lançada na semana passada, mas desde que foi divulgada, a Gift Shop, nova linha de presentes da grife espanhola Balenciaga, tem levantado uma série de acusações.
Composta de alguns acessórios e itens para casa, algumas das fotos publicadas mostram crianças segurando ursinhos de pelúcias com looks de couro e outros adereços usados em práticas sexuais, cercadas por outros produtos vendidos pela marca.
Não demorou nada para que a empresa fosse acusada de incitar pedofilia com a mensagem de sexualizar menores de idade. Em poucas horas, todo o feed da marca foi apagado (prática feita de tempos em tempos pela marca), com exceção de um comunicado no qual a Kering, grupo do qual a grife faz parte, se desculpou pelo ocorrido e reiterou o repúdio a qualquer forma de exploração e abuso de menores. A marca veio a público com o seguinte pedido de desculpas:
“Pedimos sinceras desculpas por qualquer ofensa que nossa campanha de férias possa ter causado. Nossas pelúcias não deveriam ter sido apresentadas com crianças nesta campanha. Removemos imediatamente a campanha de todas as plataformas. Levamos este assunto muito a sério e estamos tomando medidas legais contra as partes responsáveis por criar o conjunto e incluir itens não aprovados para nossa sessão de fotos da campanha Spring 23. Condenamos veementemente o abuso de crianças de qualquer forma. Defendemos a segurança e o bem-estar das crianças”, diz a nota.
Mesmo assim, a publicação não surtiu efeito, pois a nota dá a entender que a culpa foi da produção e do fotógrafo, mas o auê só aumentou nas redes sociais. Sem se responsabilizar e propor uma ação concreta, as desculpas soaram mais como algo protocolar.

E a história ainda piora. No Twitter, onde todo o auê começou com a hashtag #cancellingbalenciaga, alguns usuários passaram a divulgar detalhes de uma outra campanha, do verão 2023. Um deles, foca em um livro disposto sobre a mesa, em que a atriz Isabelle Huppert apoia seus pés. É do artista belga Michael Borremans. Ainda que seu trabalho seja variado, muitos deles apresentam crianças – às vezes de maneira bem perturbadora.
A partir disso, a internet começou a explorar a fonte de inspiração da direção de arte da marca e a relacioná-la com as obras do autor. Em outro recorte de outra coleção, a bolsa Hourglass em parceria com a Adidas, está colocada sobre um monte de papéis. Em um zoom, uma dessas folhas revela uma cópia de uma decisão da Suprema Corte estadunidense, na qual o tribunal manteve uma lei federal que proíbe o favorecimento de pornografia infantil.
Com muitas celebridades declarando sua indignação, Kim Kardashian, principal rosto de anúncios da grife, se posicionou. Disse se sentir revoltada e que está repensando sua relação com a empresa.
“Como mãe de quatro filhos, fiquei abalada com essas imagens perturbadoras. A segurança das crianças deve ser considerada com a maior consideração e qualquer coisa contra ela não deve ter lugar em nossa sociedade – ponto final”, escreveu em um post na sua conta no Instagram.
Tanta repercussão já gera também outros efeitos, o site The Business of Fashion havia anunciado no começo do ano que entregaria o prêmio Global VOICES de 2022 ao diretor criativo da Balenciaga, Demna, mas já anunciou que não entregará mais o prêmio.
Contratado como diretor criativo, Demna ganhou plenos poderes dentro da Balenciaga e é o responsável por toda a visão e visual da Balenciaga – do interior das lojas, ao feed no Instagram e, principalmente, as imagens publicitárias ou qualquer comunicação feita por lá.
Outro que foi alvo de críticas foi o fotógrafo Gabriele Galimberti, o profissional responsável pela campanha Gift Shops. Sua contratação se deu especificamente pela série Toy Stories. Durante um ano, o italiano visitou mais de 50 países, nos quais registrou crianças em suas casas ou vizinhanças com seus pertences mais preciosos: seus brinquedos. Em boa parte de seu trabalho pessoal, as imagens de Galimberti carregam um tom de crítica social, com um tratamento visual bem plástico.
O fotógrafo também se posicionou. Disse que não estava em posição de comentar as escolhas da marca e reforçou que não foi encarregado de escolher os produtos, os modelos e a combinação de ambos. Ainda assim, a internet não engole a história e a maioria das publicações argumenta que uma campanha passa pelos olhos de muitos para acreditar numa infeliz coincidência.
O que fica claro é que com as redes o boicote é feito por qualquer um que não deseja associar sua identidade a uma marca, mas muitas vezes, esse comportamento vem em massa. E então, fica a dúvida: retirar a campanha e pedir desculpas, basta?
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IMAGENS: Balenciaga/divulgação