Fernando Penna, da Tencent: Brasil terá pagamento com palma da mão no 2º semestre
Rede de supermercados do Sul do país começará a utilizar o Palm Pay, da empresa chinesa dona do WeChat. A tecnologia biométrica utiliza o escaneamento da palma sem contato como uma alternativa aos cartões físicos e dispositivos móveis

Há pouco mais de dois anos, a gigante chinesa de tecnologia Tencent oficializou a abertura de uma operação no Brasil. O objetivo desse novo braço internacional do conglomerado é, a partir do país, ampliar a capilaridade da companhia também na América Latina e trazer para os brasileiros alguns de seus serviços populares na China, como o modelo de superaplicativo Palm Pay (tecnologia que permite pagamentos usando apenas a palma da mão), e figurar no disputado mercado de nuvem.
Conhecida pela criação do WeChat - uma versão chinesa do Whatsapp - e de algumas das principais franquias de games do mundo, como League of Legends, a companhia possui vários outros serviços embutidos. Em 2024, a receita da Tencent alcançou 660,3 bilhões de yuans (US$ 92,02 bilhões), um aumento de 8% em termos anuais.
Em entrevista ao Diário do Comércio durante o Enasuper, evento organizado pela Abrasce, associação que representa os shoppings, Fernando Penna, diretor comercial da Tencent no Brasil, diz ter como prioridade popularizar a marca e posicionar a Tencent Cloud como uma empresa de tecnologia, assim como é o Google Cloud para o Google e a Azure para a Microsoft.
Com o setor de cloud (nuvem) bem concorrido no Brasil, Penna aponta como estratégia acolher clientes que sofrem com os custos desse serviço, reduzindo valores em até 30% em comparação com a média do mercado. A acessibilidade é outro ponto, pois, segundo o executivo, a plataforma é simples de acessar e não demanda nenhuma habilidade avançada.
Sobre difundir tecnologia, ele cita o Palm Pay, uma tecnologia biométrica que utiliza o escaneamento da palma da mão sem contato como uma alternativa aos cartões físicos e dispositivos móveis. Na China, a companhia tem esses dispositivos em uso há pouco mais de um ano, especialmente em academias e hotéis. De acordo com Penna, no segundo semestre deste ano, será a vez do Brasil testar a novidade.
Sem revelar nomes, Penna indica que a adesão feita por uma rede de supermercados do Sul do país, com cerca de dez lojas, será o primeiro caso no varejo brasileiro de pagamento sem a necessidade de contato físico com um dispositivo de leitura.
A previsão é que o mercado global de pagamentos por biometria atinja mais de 3 bilhões de usuários e cerca de US$ 5,8 trilhões em valor até 2026, de acordo com uma estimativa da consultoria Goode Intelligence.
Ao explicar a inovação, Penna detalha que, embora o sistema se assemelhe ao software de reconhecimento facial, os pagamentos feitos com a palma das mãos oferecem maior precisão. Além disso, o executivo aponta que a aplicação deste tipo de software está sendo vista como uma atualização dos sistemas já utilizados há algum tempo por várias empresas asiáticas, ainda que para outros fins, como, por exemplo, ter acesso a prédios e escritórios.
"São duas câmeras infravermelhas. Uma faz a leitura do formato e das linhas, analisa as impressões da palma da mão da pessoa e os padrões exclusivos das veias sob a pele. A outra é uma câmera térmica que identifica o calor nas veias das mãos. É um sistema muito mais seguro que a identificação biométrica facial e feito em segundos", disse.
Nos Estados Unidos e na China, a presença de grandes players do mercado financeiro e a concorrência intensa ajudaram a acelerar a adoção dessas tecnologias. Penna também cita que a infraestrutura tecnológica avançada, regulamentações favoráveis e uma aceitação cultural de inovações digitais foram cruciais para o sucesso dessas iniciativas naqueles países.
Sobre os desafios em terras brasileiras, ele diz que, embora o país tenha avançado em termos de tecnologia e na digitalização dos serviços financeiros, ainda é preciso aprimorar a infraestrutura para suportar essa tecnologia, como a instalação de terminais compatíveis, e evoluir na formação de parcerias com comerciantes.
Além da validade para pagamento no varejo, Penna vê muita utilidade na tecnologia para serviços, como agências bancárias, correios e transporte público. Nas palavras do executivo, trata-se de um sistema completamente antifraude em um momento em que a biometria por face tem se tornado mais sensível.
"Não há maneira mais assertiva de autenticar a identidade de uma pessoa do que pela mão dela, viva, pulsando. A China é um país que há anos não depende de dinheiro físico e muito menos de cartão de crédito. O Brasil caminha para esse cenário", disse.
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IMAGEM: Tencent/divulgação