'Com o varejo não se fala a língua do Faria Limer, e sim a do cliente'

Wellington Oliveira criou uma das maiores empresas de consignado do país, a Qualibanking, que tem como missão levar crédito responsável com uma linguagem acessível a aposentados e pensionistas

Karina Lignelli
25/Jun/2025
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'Com o varejo não se fala a língua do Faria Limer, e sim a do cliente'

Um ex-funcionário de banco pode virar empreendedor de sucesso no setor financeiro lidando com um público essencialmente formado por aposentados e pensionistas do INSS? Wellington Oliveira, 47, mostra que sim. De família simples, aprendeu a falar a linguagem acessível do varejo para oferecer crédito 'responsável', e assim criou a fintech Qualibanking.  

Nascido em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, e criado no extremo da Zona Leste de São Paulo, no bairro de Guaianazes, Wellington usou sua experiência para criar, em parceria com a mulher e COO Emilly Siqueira, a empresa de soluções financeiras focada majoritariamente em  aposentados e pensionistas. Hoje, a Qualibanking fatura, em média, R$ 250 milhões por ano.  

Sua trajetória no mercado financeiro começou na época em que cursava a faculdade de Ciências Contábeis, e acumulou experiências nos bancos Cruzeiro do Sul e do Nordeste. "Originalmente, meu plano era trabalhar em bancos internacionais. Cheguei até a me preparar para fazer um intercâmbio no Canadá e aprimorar o inglês. Esse era meu propósito", conta.

Mas foi aos 26 anos, com a sanção da Lei do Consignado, que entrou em vigor em 2004 causando uma verdadeira reviravolta no mercado de crédito, que ele enxergou um nicho de oportunidade: oferecer empréstimos com baixo risco de inadimplência e grande apelo entre beneficiários do INSS, servidores públicos e, posteriormente, trabalhadores do setor privado. 

"O retorno era absurdo e o risco era o óbito do contratante. Esse negócio ficou gigante e foi ali que eu conheci o consignado e a figura do correspondente bancário (ou 'corban'). Por isso digo: tenho 21 anos de experiência porque eu estou nesse ramo desde 2004." 

Por ser "obstinado", conforme diz, e ganhar notoriedade como pastinha, nome popular dos correspondentes bancários, em 2006 Wellington foi descoberto por headhunters e contratado pelo Banco BMC (hoje Bradesco Promotora). Em 2008, foi para o Banco Industrial do Brasil. "Esse foi o último banco no qual eu trabalhei."

Entre 2009 e 2010, quando já conhecia muito do universo dos correspondentes bancários, fez as contas, viu que dava jogo e entendeu que tinha chegado a hora de abrir seu primeiro empreendimento no ramo. 

Falando a língua do cliente 

Mas o começo não foi tão simples, lembra Wellington Oliveira. Primeiro, por não acreditar, mesmo que todos dissessem, que ele tinha jeito para a coisa, que era comunicativo o suficiente para investir na área comercial. "Eu era um cara de exatas, de contabilidade. Minha motivação era puramente orçamentária. Abri o negócio próprio porque queria ganhar mais dinheiro." 

Segundo, porque vinha do mercado financeiro com muitos vícios - e um deles era a linguagem 'Faria Limer', conforme brinca. "O termo nem existia na época, mas eu cheguei com os jargões do mercado financeiro. Só que com o varejo não se fala essa linguagem, e sim a do cliente." 

Demorou para ascender no empreendimento e, dois anos depois, desanimado, decidiu voltar para o mercado, recebendo até oferta de emprego do banco espanhol Bilbao Vizcaya. Até que um amigo, dono de uma promotora de crédito, reforçou sua habilidade de comunicação e convidou-o a montar uma plataforma de parceiros. Passou a tratar equipe e clientes com comunicação 'de varejo', e tudo mudou, "dando origem ao Wellington que as pessoas conhecem hoje", diz. 

Na mesma empresa, conheceu Emilly, que o incentivou a dar uma segunda chance ao empreendedorismo com sua nova compreensão de linguagem de varejo, somada à sua experiência organizacional e corporativa. Assim, em 2017, com um investimento de R$ 20 mil de suas economias, nasceu o Qualibanking, que começou em um escritório minúsculo com Wellington e Emilly, quatro funcionários e um superintendente comercial e um financeiro.

Todos, incluindo o casal de empreendedores, colaboravam em todas as áreas, do RH à limpeza. E todos continuam na empresa até hoje, trabalhando com o mesmo objetivo. "Nossa missão é oferecer crédito de forma responsável e ser uma ponte de soluções para quem precisa."

Hoje, a empresa, que tem sede na Vila Carrão, também na Zona Leste paulistana, é referência no setor assim como Wellington, pelo pioneirismo e boas práticas na concessão de crédito consignado. E conta com quase 400 funcionários - todos celetistas, faz questão de frisar.

"Nosso sucesso se deve ao trabalho da equipe. Se eu não fosse empresário, acho que seria um grande celetista, pois é esse trabalho conjunto que faz todos crescerem", acredita.

De pseudoverdade a modelo de confiança

Em um mercado que ficou malvisto e estigmatizado por fraudes, e a pecha de enganar idosos com pseudo-ofertas de crédito - vide o escândalo recente das fraudes no INSS por desconto indevido nos benefícios -, o diferencial do Qualibanking, do Grupo Qualiconsig, é ter um compliance rigoroso e a preocupação em oferecer um serviço ético e transparente. 

Historicamente, se o mercado de crédito consignado é associado a práticas duvidosas desenvolvidas para "enganar velhinhos", segundo Wellington, ao mesmo tempo passa por uma transformação significativa, impulsionada por tecnologia, uso de biometria com o endurecimento das regras de concessão pelo INSS, assinatura digital e maior qualificação dos profissionais.

O CEO do Qualibanking elogia as medidas do governo para evitar fraudes pois acredita que elas vão forçar a saída de maus profissionais, garantir que o empréstimo só seja homologado com a certificação do cliente e diminuir drasticamente processos jurídicos por não-reconhecimento da dívida. Isso protege aposentados e pensionistas, pois são a camada mais frágil da sociedade, diz. 

“Nossa operação é toda formalizada, auditável e transparente, e nossos parceiros passam por treinamentos rigorosos de ética e compliance", explica. "Prefiro ter poucos parceiros alinhados com nossos valores do que abrir para qualquer um e comprometer a qualidade, apoiando-os para venderem mais, em vez de buscar um grande número com produção duvidosa”, completa, destacando que todas as vendas são auditadas e armazenadas em um banco em nuvem, o que  permite que qualquer órgão regulador solicite e receba sua comprovação em minutos. 

Wellington também atua para incentivar empresas do setor a serem mais transparentes com os clientes, por meio de vídeos, convites para conhecer a empresa e até chamadas de vídeo para construir idoneidade e segurança. "O objetivo é que, num futuro próximo, os clientes confiem plenamente nos corbans, transformando 'pseudoverdades' em um modelo de confiança."

No Qualibanking, a produção mensal de crédito consignado varia entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões, segundo o CEO, mas já está se expandindo para o crédito consignado privado, voltado a trabalhadores CLT (o Crédito do Trabalhador, do Governo Federal). Para essa linha de crédito, a projeção da fintech é movimentar de R$ 100 milhões a R$ 120 milhões por mês.  


IMAGEM: Karina Lignelli/DC

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