Franchising: a salvação do varejo multimarca de calçados
Enquanto fabricantes como Usaflex (acima, a franquia do Mooca Plaza Shopping) visam expansão, lojistas adotam modelo para diversificar negócios e lucrar mais. Na Francal 2020, área exclusiva deve aproximá-los
Margens baixas, gestão de estoque complicada, mão de obra de difícil qualificação. A realidade do tradicional varejo multimarca de calçados acabou derrubando a participação desse mercado, que era de 80%, pela metade de 2013 em diante, segundo dados da Ablac (Associação Brasileira dos Lojistas de Artefatos e Calçados).
Mas a opção de virar franqueado de grandes marcas da indústria calçadista, como Usaflex, Arezzo e Democrata, entre outras, se tornou uma espécie de “salvação” para esse lojista. Principalmente quando se fala em diversificar negócios e aumentar lucros.
Num momento em que o consumidor exige cada vez mais experiências, se aproximar da indústria, que busca capilaridade para fortalecer sua expansão com a ajuda de um parceiro que entende de vender sapatos, é uma tendência que já virou realidade.
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Essa segmentação do varejo de calçados, inclusive, é um movimento maior que o das marcas, na tentativa de melhorar o atendimento para o consumidor final, diz Wesley Barbosa, consultor de varejo da Francal Ablac Show.
“Franquia é isso: fabricante busca lojista que entende da operação, e lojista busca diversificar os negócios. É uma junção cada vez mais forte para trocar conhecimentos.”
A estratégia está ficando mais comum, e pelo menos 40% dos empresários do setor investem numa franqueadora, mas mantêm a multimarca – caso da Oscar Calçados, no Vale do Paraíba, que tem mais de 35 anos nesse mercado e é franqueada Usaflex.
“E a tendência é que isso aconteça cada vez mais, e não só porque reduz custos, mas porque as margens de uma franquia são melhores”, explica.
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Lojistas do setor também têm adotado o modelo pré-formatado e padronizado de design de loja, atendimento e processos para se beneficiar da expertise das marcas.
“Além do custo menor que uma multimarca, com uma loja (franqueada) de menos de 100 m2, esse lojista não só melhora a experiência do consumidor, mas consegue melhorar sua própria imagem e ter uma gestão de custos mais eficiente”, diz Barbosa.

De olho nesse movimento, a edição 2020 da Francal Ablac Show, que será realizada entre 1 e 3 de junho, terá até um espaço exclusivo para promover esse encontro batizado de “Showroom Franquias”, lembra o diretor de negócios Fernando Ruas.
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No espaço, que fica na área 100% Varejo, grandes fabricantes devem expor seu modelo de franchising a milhares de lojistas interessados em diversificar.
“Muitas empresas do setor voltaram a investir, então a expectativa é colher esses frutos durante a feira”, destaca Ruas, dizendo que há uma expectativa de aumento de público de 10% a 15% ante 2019, quando a Francal recebeu mais de 15 mil visitantes. Para mais informações sobre a Francal Ablac Show 2020, acesse o site do evento.
RELAÇÃO DIRETA COM A MARCA
Multimarca desde 1991, a rede Azul Calçados, com sede em Itú e oito lojas espalhadas em Campinas e região, percebeu que nos últimos anos o mercado em que atuava vinha sofrendo forte influência de produtos monomarca através do peso do nome do fabricante, segundo o seu fundador, Antoniel Marrachine Lordelo.
“Então, decidimos estreitar nosso relacionamento com a Usaflex e partimos para o sistema de franquias, onde atuamos com seis lojas em São Paulo”, conta. Uma delas é a do Mooca Plaza Shopping, na capital paulista, na foto que abre essa reportagem
Quando as histórias da Azul e da fabricante Usaflex se confundem, exemplificam bem esse movimento: fundada em Igrejinha (RS) em 1998, a indústria calçadista virou franqueadora em 2016, após receber aportes do Axxon Group e do investidor Sérgio Bocayuva, que hoje é presidente da companhia.
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“Percebemos que o mercado multimarca, tanto no Brasil, quando no exterior, não evoluiu e vinha se desmantelando”, afirma. “Entendemos que o consumidor quer ter uma relação mais direta com a marca, mas para ter mais controle sobre a expansão, os produtos e os serviços, o ideal é através de uma loja monomarca”, completa Bocayuva.
Sem revelar números, Lordelo diz que o modelo de franquia trouxe grandes aprendizados para a equipe que atua sob administração da Azul. Tanto que a rede também opera uma franquia da Calçados Bibi, e vai abrir mais duas Usaflex.

“O mercado tem mudado muito, e as monomarcas têm sido mais valorizadas pelo cliente pois possibilitam uma melhor experiência de compra para o consumidor”, afirma. “Nelas, conseguimos expor em torno de 120 SKUs de uma única marca – o que não acontece em uma loja multimarca.”
Mas o empresário, que também é diretor da Ablac, não vai desistir do modelo no qual sempre atuou. “Temos boas perspectivas para 2020, que incluem abrir o primeiro negócio de franquias da Azul no formato multimarca”, sinaliza. "Afinal, estamos tratando de públicos diferentes: o C, no caso da Azul, e o A/B, no caso da Usaflex.”
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Sem nenhuma loja própria, a Usaflex, que entrou no varejo via franchising, hoje tem 227 unidades operadas por 74 franqueados, sendo que, cada um tem em média três franquias cada. Do total, 48 eram ou ainda são donos de multimarcas. Também está presente em multimarcas de 50 países, onde tem 17 lojas licenciadas.
Em 2019, faturou R$ 349 milhões, deve encerrar 2020 com 280 lojas, e estima chegar a 2023 com 340. “Grande parte do nosso crescimento vem através de franquias”, diz Sérgio Bocayuva.
Porém, não basta franquear para ter sucesso: é preciso oferecer um produto inovador e de alto valor agregado, que tem como diferencial o conforto, destaca. Mas também é preciso estruturar uma área completa de serviços ao franqueado dando todo o apoio necessário, da escolha do ponto à montagem da loja, e até às compras.
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E não empurrando mercadorias, garante, mas oferecendo vantagens competitivas, diz o presidente da Usaflex, reforçando que, pela estabilidade da operação, além de a rentabilidade relativa ficar entre 50% e 100% maior, a venda por m2 de uma loja monomarca é, em média de 4 a 8 vezes maior que a da multi.
"O ganho que esse operador tem ao migrar para franquia é gigantesco: tem produtos, tem mídia, e apoio da indústria para fazer que a operação seja mais rentável possível”, finaliza.
FOTOS: Divulgação