Microcafeterias caem no gosto do paulistano e criam oportunidades para empreendedores
Modelo enxuto, atendimento rápido e café de qualidade transformam portinhas do Centro de São Paulo e de regiões com grande fluxo em negócios rentáveis

Em meio ao ritmo acelerado da capital paulista, um modelo de negócio compacto e eficiente ganha espaço: as microcafeterias. Com atendimento ágil no estilo “to go” e estrutura enxuta, esses pequenos pontos de venda se multiplicam.
O formato, que privilegia o preparo rápido e o consumo na calçada ou no balcão, tem conquistado consumidores que buscam praticidade, sem abrir mão da qualidade.
O crescimento do formato não é por acaso. O consumo de cafés especiais avança de forma contínua no Brasil, de acordo com a Brazil Specialty Coffee Association (BSCA), impulsionado por um público cada vez mais exigente e interessado em experiências gastronômicas, mesmo que seja em momentos breves do cotidiano.
Neste cenário, as microcafeterias se tornaram uma resposta direta à demanda por cafés bem preparados, em ambientes simples e acessíveis. Em regiões como o Centro, o Itaim Bibi, a Vila Olímpia e a Avenida Paulista — áreas com intenso fluxo de trabalhadores, turistas e moradores, que valorizam a conveniência — é possível ver o crescimento desse movimento.
Quem apostou na ideia em 2023 foi Ana Carvalho, proprietária da microcafeteria The Coffee Bloom, localizada no centro histórico de São Paulo. Ela descobriu que faltavam cafés com produtos diferenciados na região e encontrou uma estrutura pequena que atendia às suas necessidades.
Localizada na Rua Barão de Itapetininga, 37, loja 68, a microcafeteria atende a um público bastante diversificado, formado principalmente por trabalhadores da região, visitantes do Centro e um número significativo de turistas estrangeiros.
“Estamos no miolo do centro histórico. Trabalhamos com café especial, sempre do mesmo fornecedor, pois nossos clientes já conhecem e confiam na qualidade do nosso produto”, diz Ana.
Segundo ela, a clientela está crescendo gradativamente, com uma média atual de 40 a 50 atendimentos diários. Para investir em um negócio como este, Ana dá uma dica: “É fundamental ter uma boa máquina de café, pois não adianta ter um excelente grão e uma máquina que não extraia corretamente, seja pela temperatura ou pressão. Às vezes, a locação da máquina é a melhor opção, por causa da manutenção. O importante é saber quem é seu cliente, pois é para ele que você vai buscar os melhores produtos.”

Além do café, a The Coffee Bloom oferece bebidas sem cafeína, como matcha, chocolate quente e soda italiana, produtos importados, como croissants franceses e pão levain da Espanha, além de empanadas, pão de queijo, cookies, bolos e brigadeiros.
O crescimento da clientela mostra que, mesmo em espaços reduzidos, é possível oferecer uma experiência memorável para quem busca mais do que apenas um café.
Investimento
Para quem deseja empreender com baixo investimento, o modelo também se apresenta como uma alternativa viável. Montar uma microcafeteria exige, em média, um investimento inicial de R$ 25 mil — valor que pode variar muito conforme a localização, a necessidade de reformas no espaço e a escolha dos equipamentos. Se for franquia, esse valor pode subir consideravelmente.
Esse orçamento, segundo os especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio, costuma incluir aluguel do ponto comercial, adaptação do ambiente, compra de equipamentos básicos como máquina de café expresso e moedor, além de móveis funcionais, estoque inicial e despesas com licenças.
Cristina Souza, CEO da Gouvêa Foodservice, afirma que as microcafeterias são, sem dúvida, uma opção para quem deseja empreender individualmente ou para a expansão de modelos de negócios de alimentação.
“Aluguéis mais baixos, simplicidade operacional - já que não são necessárias mesas para os clientes - e conveniência expressa são os fatores positivos para abrir o negócio. No entanto, é um modelo sensível aos solavancos, como inflação que aumenta bem os preços dos alimentos e da locação. É um canal interessante, porém, requer uma gestão muito apurada”, comenta Cristina.
De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), é fundamental iniciar o processo de forma organizada, cuidando da legalização do negócio. Isso inclui a obtenção do CNPJ, alvará de funcionamento e contrato de locação do imóvel, além do atendimento às normas sanitárias e regulatórias da Prefeitura.
A escolha do ponto comercial deve priorizar locais com alto fluxo de pessoas, como áreas próximas a estações de metrô, centros comerciais ou hospitais. Mesmo espaços pequenos, a partir de 8 a 10 metros quadrados, podem ser suficientes para uma operação funcional, que acomode um balcão de atendimento e os equipamentos essenciais.
A estrutura básica inclui equipamentos indispensáveis como máquina de café expresso, moedor, balcão refrigerado, estufa para salgados, freezer e micro-ondas. Mas há versões de microcafeterias que só vendem café, que exigem investimento apenas em equipamentos para extrair a bebida.
A equipe pode ser reduzida a um atendente, um barista e um caixa ou apenas ao proprietário, como é o caso de Ana, da The Coffee Bloom. A produção de alimentos pode ser terceirizada ou composta por produtos pré-prontos, o que elimina a necessidade de uma cozinha completa. A decoração desempenha papel estratégico na fidelização dos clientes.
O Sebrae possui um guia chamado “Como montar uma cafeteria de sucesso”, com dicas que podem ser baixadas no link https://respostas.sebrae.com.br/como-montar-uma-cafeteria-de-sucesso.
Sobre o potencial financeiro, Carlos Menezes, consultor de negócios especializado em franquias do setor de alimentação, faz as contas. Com um ticket médio em torno de R$ 20 por cliente, uma microcafeteria bem estruturada - que atenda a 100 clientes por dia - pode faturar até R$ 40 mil mensais, possibilitando o retorno do investimento inicial em cerca de um ano e meio. Uma estrutura menor pode ter uma entrada mensal em torno de R$ 20 mil.
Franquias
Empresas como a Mais1.Café, que nasceu em 2019, ilustra bem essa tendência das microcafeterias. Com mais de 500 unidades comercializadas em todo o Brasil, a rede de franquias foi eleita pelo terceiro ano consecutivo como uma das 50 maiores franquias do Brasil, de acordo com ranking da Associação Brasileira de Franchising (ABF). Em 2024, a rede consolidou 502 unidades de tamanhos variados em todo o país e com expansão em outros países.
A The Coffee (na imagem que abre a matéria) é outra gigante, com nacionalidade brasileira, mas inspirada no modelo to go japonês. Tem foco em ambientes compactos, minimalismo, tecnologia e qualidade de café. Fundada em 2018 por três irmãos após uma viagem ao Japão, a rede está presente em vários países e se aproxima das 200 unidades no Brasil.
“Esses exemplos reforçam como o conceito da microcafeteria, com espaços reduzidos, atendimento rápido e cardápios focados, ganha cada vez mais adeptos e consolida sua presença em diferentes regiões do país”, reforça Menezes.
Assim como a The Coffee Bloom, da Rua Barão de Itapetininga, outras microcafeterias se espalham pela cidade, sem nenhuma ligação com franquias. É só andar pelo Centro de São Paulo ou por centros empresariais que é fácil encontrar suas portinhas charmosas.
Desafios
Segundo Menezes, o segmento também apresenta seus desafios para quem quer empreender. “A concorrência nas regiões centrais e polos empresariais é bastante acirrada, o que exige um diferencial claro para fidelizar o cliente.”
Ele também destaca a sazonalidade do movimento, que pode variar conforme o período do ano e o horário do dia, especialmente em regiões comerciais onde o fluxo cai nos finais de semana.
“Manter o padrão de qualidade é fundamental, mas pode ser complicado devido à rotatividade de equipe e à necessidade constante de treinamento. Além disso, controlar custos sem perder o padrão do café e do atendimento é outro desafio que o empreendedor precisa enfrentar. A não ser que seja uma cafeteria bem pequena onde ele mesmo trabalhe sozinho”, diz Menezes.
“O segmento é promissor e pode ser uma porta de entrada ideal para novos empreendedores que desejam atuar no mercado de cafés especiais”, conclui o consultor.
LEIA MAIS
Portinhas de comércio tomam ruas da Vila Buarque, na região central de SP
Grifes apostam na moda do cafezinho de luxo
IMAGEM: divulgação