Às urnas!
Ou a questão do crime organizado passa a ser tratada como de Estado pelo próximo governo, ou o Estado de Direito democrático deixará de existir como tal no Brasil

Nas eleições de outubro o País enfrentará as questões que constituem o que, no futuro, será chamado de a grande crise brasileira do início do século XXI. E não há qualquer dificuldade para dizer quais são essas questões: déficit fiscal, corrupção e violência.
Antes de mais nada é preciso dizer com todas as letras que elas são ameaças à sociedade e não a um governo eleito. São problemas que atingem indistintamente toda a população, em seu modo de vida e bem-estar. E são males tão intimamente ligados que é difícil distinguir a prioridade e a urgência no combate a eles.
Ou alguém tem dúvida que o descalabro das contas públicas tem origem na corrupção que anda de mãos dadas com a violência? Não é à toa que a palavra para conjurar tamanho mal seja ambiciosa: reforma.
Reforma de quase tudo. É preciso reformar desde a atitude da autoridade pública até a visão do País sobre si mesmo, inspirando um surto de confiança que anime a sociedade a sustentar os ajustes que valorizem seu trabalho, sua produtividade e seu investimento.
Daí ser impossível separar as questões do déficit fiscal, da corrupção e da violência. Ou se as enfrenta como um emaranhado de mal social, ou uma alimentará a outra indefinidamente.
O círculo vicioso do Brasil começa com uma mal intencionada gestão de recursos públicos, que gera corrupção, a qual, por sua vez, institucionaliza a ilegalidade. O resultado é o que está se desenhando em algumas geografias e setores da vida nacional: a decadência e irrelevância do Estado brasileiro.
A grande pergunta da eleição de 2018 é como o Brasil vai sair dessa situação.
Como ficou evidente da administração Temer, não será com um governo sem autoridade moral, contaminado pela corrupção.
Governo assim não conduz reforma alguma. E tampouco enfrenta a guerra que o crime promove contra a sociedade e o Estado pelo País afora. Tudo o que um tal governo faz são meias medidas, enquanto a crise anda a medida e meia.
Os riscos que o Brasil corre estão aí escancarados. Não precisam ter as tintas carregadas para despertarem a atenção de quem tem reponsabilidades no País, sejam políticas, institucionais, empresariais ou de formação de opinião.
O bolivarianismo lulista, tolerado pela justiça e incensado pela intelectualidade, continua à solta, trazendo prejuízos à economia, desafiando a lei, pautando as eleições e denegrindo a imagem do País. Como populismo chão que é, ele não aceita qualquer disciplina fiscal e tem por arma predileta a corrupção. Não foi surpresa que em seu reinado a violência no País tenha se multiplicado.
E à vista do que as mais altas cortes do País já fizeram ou deixaram de fazer, não há nenhuma garantia de que ele não volte triunfante, vingativo e voraz para lançar o País no caos, antes, durante e após as eleições.
O presidencialismo de corrupção, por sua vez, tem bons motivos para acreditar que vai continuar à tripa forra. Recursos e cumplicidades não lhe faltam. Pode atender a uma miríade de interesses e hospedar até o petismo, que vai reeditar a eficaz chantagem que o seu prócer praticou contra as lideranças da Nova República até alcançar o poder.
Essa forma de governar, se não mudar seu receituário de intervencionismo, assistencialismo, clientelismo e acomodação, em um quadro em que a gordura da economia acabou e a paciência da população está se esgotando, engendrará uma convulsão nacional jamais vista, oportunizando os radicalismos de todos os matizes.
E o crime, com sua agenda própria, tem dinheiro de sobra para explorar as ambições e projetos de quem quer que seja, sempre em seu próprio benefício, no fim das contas. Mais do que um grande mercado consumidor, o Brasil pode estar se transformando em um grande distribuidor mundial de drogas, potencializando incomensuravelmente o poder das facções criminosas no País.
Ou a questão do crime organizado passa a ser tratada como de Estado pelo próximo governo, ou o Estado de Direito democrático deixará de existir como tal no Brasil.
Não existem questões mais importantes do que essas para o Brasil. Nenhuma delas é mais ou menos mais grave. Todas devem ser enfrentadas. Só de uma maneira.
Às urnas, filhos e filhas do Brasil!
**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário do Comércio
IMAGEM: Reprodução/A Pátria, de Pedro Bruno, 1918 (Museu da República)