A irrelevância da ONU

“Quando delegações de países deixam o plenário vazio para protestar contra o inferno da guerra é difícil não ver ali uma assembleia colegial de líderes fracos dissimulando humanidade sem assumir responsabilidade”

Paulo Delgado
08/Out/2025
Sociólogo; foi Deputado Constituinte em 1988
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A irrelevância da ONU

Na entrada do hall da Assembleia Geral na sede das Nações Unidas (ONU) em Nova York, os painéis "Guerra e Paz" do artista brasileiro Cândido Portinari pairam como uma admoestação aos líderes mundiais que anualmente se encontram ali sobre a importância da transformação da guerra em paz.

Curiosamente, Portinari não pôde acompanhar a instalação de sua própria obra na ONU, porque teve o visto de entrada nos Estados Unidos negado em razão das posições políticas que lhe eram associadas. Do Séc XX para o XXI, a diferença é ver a ONU como um fracasso multilateral.

O Secretario Geral da época, o sueco Dag Hammarskjöld, que viria a receber o Prêmio Nobel da Paz postumamente, após morrer num suspeito acidente de avião em 1961 na África, dizia que “a ONU não foi criada para levar a humanidade ao paraíso, mas para salvar a humanidade do inferno.” Será?  Quando delegações de países deixam o plenário vazio para protestar contra o inferno da guerra é difícil não ver ali uma assembleia colegial de líderes fracos dissimulando humanidade sem assumir responsabilidade.    

A ONU passa por um período triste e sombrio, sem muitas condições de ajudar a humanidade. Nessa Assembleia Geral, no final do mês passado, marcando os 80 anos das Nações Unidas, era visível o estado bastante puído ou rasgado das cadeiras no plenário de sua sede em Nova York, claro sinal da má-conservação da entidade, mesmo em seus aspectos mais banais.

Reflexo de tudo, a ONU enfrenta um corte orçamentário de 500 milhões de dólares. O qual levará ao fechamento de cerca de 20% dos postos de trabalho, após a forte redução no financiamento dos EUA. Mas quem observa a proposta orçamentária para a redução de pessoal, vê como fazem as elites do holerite que mandam no caixa dos Estados atuais. Os cortes da ONU para 2026 poupam os volumosos e improdutivos escalões mais altos, que permanecem muito bem remunerados — inclusive para os padrões nova-iorquinos.

O enfraquecimento da ONU já vem de décadas, em parte pela resistência em reformar a instituição, em parte pelo boicote que os principais países do mundo fazem do órgão — não apenas os EUA.  A ONU deixou de estar ou ser protagonista dos principais eventos globais.

Para salvar a ONU da irrelevância, e fazê-la desempenhar um papel vital no mundo dividido entre dois impérios que não necessitam de paz para prosperar, é preciso deslocar seu foco de ação do paralisado Conselho de Segurança para a uma renovada Assembleia Geral. E isso passa, inclusive, por uma melhor distribuição geográfica de suas sedes e locais de encontro.

 

IMAGEM: Ministério da Cultura/divulgação

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