40 anos do cenário político
“O fenômeno do interesse setorial e individual que a cooptação possibilita se esparramou pelo Estado e está escancarado na luta pelo orçamento da União. A captura e o controle do orçamento são a principal energia e objetivo dos três poderes”

O Brasil vive 40 anos de um mesmo período longo e crônico iniciado com a redemocratização e a posse de Sarney em 1985. E tendo Lula como líder da oposição ou do governo desde os anos 1990 quando perdeu para Collor. A coalizão política de esquerda que o apoia, sem vencer no primeiro turno, ocupou o poder em 5 das 9 eleições brasileiras do período.
Desde os anos 1990 vivemos um contexto político efervescente de reformas incompletas e baixa qualidade da estabilidade institucional, impulsionada pela livre interpretação que os Três Poderes dão do que seja interesse da sociedade previsto na Constituição. Tal fato produz recorrentes idas e vindas nos tribunais com a acusação/prisão/absolvição de 4 presidentes da República do período. No Congresso inúmeros pedidos de impeachment votados ou não votados. No Executivo uma política econômica de crescimento modesto e uma política externa inadequada. Tal confusão permanente de pobres respostas para tanta esperança é traduzida por complacentes analistas internacionais como “vitalidade da democracia brasileira”, agregando novos usuários da paciência de nossa sociedade. O que contribui para manter a autoconfiança da autoridade que está certa de que não abusa das prerrogativas do poder e nem atua abaixo das responsabilidades do seu exercício.
Um dos motivos da improvisação permanente é a prática da cooptação eleitoral e administrativa pelo uso manipulatório da estrutura partidária. Cooptação na política brasileira é admitir a cooperação eleitoral oportunista sem compromisso com a gestão governamental. Especialmente quando o candidato não vence no primeiro turno e faz, no segundo turno, aliança matemática com os derrotados. Adversário sem programa é melhor aliado para governar. A Nova República nada tem de nova quando o governo governa com as duas faces da hipocrisia – seduz o derrotado; trai o aliado - para atingir um único denominador comum: manter a maioria eleitoral, ter popularidade e se reeleger.
O fenômeno do interesse setorial e individual que a cooptação possibilita se esparramou pelo Estado e está escancarado na luta pelo orçamento da União. A captura e o controle do orçamento é a principal energia e objetivo dos três poderes.
Mudar o modelo é construir a engenharia para vencer no primeiro turno com uma frente partidária que ajuste o Brasil aos novos tempos. Se não surgir um centro político-liberal-social-democrático, apoiado por uma nova esquerda não extremista, as eleições caminharão outra vez para dois turnos, o mais do mesmo. Ou o imponderável, pois ninguém sabe o que anda na cabeça do cidadão digital que agora predomina.
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IMAGEM: Dida Sampaio/AE