O submundo da tecnologia ataca
‘Será que ainda é preferível falar do óbvio — as vantagens que a tecnologia trouxe — ou já é hora de nos concentrarmos nas desvantagens’

Aumenta, no mundo, a força e a ousadia dos “cretinos digitais”. O deslumbramento mundial com a tecnologia poderá se tornar um desespero nacional, estatal, empresarial, familiar e emocional. A dança sem lei dos algoritmos está moldando a personalidade humana. Se um boi pudesse usar o mundo digital certamente o faria como um quadrúpede. Não tem sentido o ser humano se comportar como animal irracional.
Os que priorizam a comunidade, a lealdade, a discrição, a justiça e os valores poderão ser expulsos das instituições e da vida cotidiana pelos maximizadores de influência, velocidade, ambição, lucro e poder. A internet é o maior sim que o poder da tecnologia já ousou criar. É hora de frear a onda e aprender a dizer não aos seus abusos.
O submundo global da tecnologia avança e pode começar a prejudicar a economia, como ocorreu recentemente com o grande ataque cibernético que afetou três famosas redes varejistas de comércio da Inglaterra: a Harrods, o Marks and Spencer, e o Co-op. E está chegando ao Brasil nos golpes de celular, fraudes e extorsão. O crime e a espionagem cibernéticos começam a suplantar o crime organizado tradicional.
O poder oculto da internet deve ao menos afligir o cidadão com a possibilidade de poder perder tudo de uma hora para outra por fraudes, golpes e crimes digitais.
Dias atrás, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), equivalente ao SUS brasileiro, tornou público que um ataque de ransomware — que é um tipo de software malicioso usado para extorsão — interrompeu testes de sangue em vários hospitais de Londres, contribuindo para a morte de pelo menos um paciente.
Para o manipulador da internet tornou-se um bom negócio usar a rede para prejudicar alguém e não respeitar seus direitos. O pacato cidadão com seu celular, comerciantes, industriais e bancos são os alvos preferenciais de ataques, crimes e fraudes cibernéticas. O crime — e os maus hábitos que ele dissemina — tornou-se um grande negócio, que tem dizimado a natureza comunitária das cidades, fechado lojas, desmoralizado pessoas de bem enganadas à luz do dia.
Palavras-crime, golpe online, código de resgate para sequestro de dados; etc. O uso malicioso da internet ameaça destruí-la, provocando seu rápido declínio por meio da deterioração progressiva da qualidade e da confiabilidade das relações e dos serviços comerciais online.
Será que ainda é preferível falar do óbvio — as vantagens que a tecnologia trouxe — ou já é hora de nos concentrarmos nas desvantagens, no sofrimento, e corrigir os rumos, para não nos arrependermos, como Alfred Nobel se arrependeu de ter criado a dinamite?
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