Brasileiro está à beira de um ataque de nervos com política
Ansiedade gerada por incertezas e campanha eleitoral polarizada surpreende e preocupa psicólogos

O que aconteceu no consultório de Tatiana se repetiu em outras clínicas e divãs pelo Brasil. Segundo o diretor do Conselho Federal de Psicologia, Pedro Paulo Gastalho de Bicalho, a entidade tem recebido um número expressivo de relatos sobre as consequências psicológicas do processo eleitoral.
Eleitores de Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) que buscaram ajuda de psicólogos e terapeutas nas últimas semanas estão com medo do "dia seguinte", do futuro imediato e das consequências sociais e econômicas de uma eleição marcada pela polarização e negação do outro.
A psicóloga Flávia Eugênio conta que conversou com pacientes que estavam emocionalmente paralisados com receio até de andar na rua e de outras situações cotidianas.
A terapeuta Maria Vicente, do coletivo Escuta Sedes, afirma que tem acompanhado o aparecimento "das fantasias mais primárias relativas ao desamparo e à vulnerabilidade frente às ameaças que se apresentam".
Um empresário de 49 anos, eleitor de Bolsonaro, disse que as incertezas econômicas produzidas por uma imaginária vitória de Haddad são motivos de insônia e angústia.
Já um comissário de bordo de 36 anos, eleitor de Haddad, conta como a eleição interrompeu um longo processo de reaproximação entre ele e o pai.
Para a psicóloga Adriana Burani Venceslau, "o papel do terapeuta não é o de fazer uma intervenção política, mas ajudar o paciente a descobrir o que foi deflagrado pelo ambiente atual". Ou seja, ajudar a desvendar as questões que já estavam pendentes nos relacionamentos e que vieram à tona, tendo como gatilho uma discussão que, na superfície, era "apenas sobre política."
O quadro de desequilíbrio emocional ficou tão evidente que psicólogos e terapeutas de diversas correntes estão promovendo as chamadas rodas de conversa e acolhimento. As ações funcionam como grupos de terapia coletiva - e são ações abertas e gratuitas.
Segundo Tatiana Olic, a ideia é tentar fortalecer a ideia de "pertencimento". "Nesse momento, as pessoas precisam entender que não estão sozinhas, que ainda existe empatia e possibilidade de diálogo", afirma ela.