Cidadania e responsabilidade municipal
“O compromisso coletivo e individual para com a cidade pode ser inspirado por ações práticas, tais como: cuidar da calçada em frente à residência; cuidar da fachada das residências; manter as praças e jardins próximos às residências, empresas ou instituições; destinar adequadamente o lixo...”

*Lívio Giosa é vice-presidente da ADVB, coordenador-geral do IRES e presidente do CENAM
Cada vez mais os conceitos e práticas da ética e da responsabilidade socioambiental estão se estendendo para o dia a dia do cidadão brasileiro, que está mais sensível ao tema.
O primeiro elo desta nova rede nasce do amplo processo de transformação da sociedade, advinda da intensificação da presença do Terceiro Setor.
Pessoas, cidadãos, juntos, amalgamados, lutando e atuando em prol de uma causa comum, ampliando a sua área de ação, construindo e fazendo a diferença, são as bases de sustentação das referenciadas ONGs, as Organizações Não Governamentais.
Bill Clinton – ex-presidente americano, em suas palestras, diz: “o mundo é das ONGs”, confirmando e demonstrando que a sociedade quer participar, interferir através das suas próprias mãos.
As empresas, incluindo as micro e pequenas, por sua vez, ampliam esta rede do bem, aperfeiçoando o processo de sustentabilidade dos negócios, através de ações social e ambientalmente responsáveis.
Com isto, atraem os seus stakeholders (públicos com os quais se relacionam) e, principalmente, o seu quadro interno de colaboradores para as práticas de voluntariado e de solidariedade plena e contínuas.
Assim, fica claro que a sociedade em transformação é consequência da mudança de posicionamento do próprio cidadão, que está nas ONGs, está nas empresas, é o cliente, o empreendedor, o ser humano que desponta e altera todo este novo sistema de participação.
Já que estas iniciativas se alastram pelo mundo e pelo Brasil, vale também identificar um outro ângulo de reflexão.
Este grau de convivência já está se consolidando nos mais variados perfis da sociedade (faixa etária, nível social, nível educacional, faixa econômica). Cabe, portanto, analisarmos o seguinte ponto: a participação da sociedade através da responsabilidade municipal.
André Franco Montoro, governador de São Paulo e senador da República, dizia com toda propriedade, que somos “seres municipais”, que é no município que nascemos, vivemos, temos endereço e cep.
A “consciência municipalmente responsável” pode ser, portanto, colocada numa nova dimensão desta responsabilidade-cidadã.
Afinal, a cidade é nossa, o município é nosso e, por isso, devemos abraçá-lo e cuidar dele.
Cabe, assim, aos executivos municipais atentarem para esta nova leitura da sociedade.
Como, então, operacionalizar essa percepção inovadora do cidadão consciente da sua responsabilidade municipal?
O compromisso coletivo e individual para com a cidade pode ser inspirado por ações práticas, tais como: cuidar da calçada em frente à residência; cuidar da fachada das residências; manter as praças e jardins próximos às residências, empresas ou instituições; destinar adequadamente o lixo; identificar creches, asilos e escolas ao entorno, aprimorando fisicamente as instalações e/ou participando de programas de convivência; participar das associações de bairro, conselho de segurança, conselho tutelar e demais iniciativas coletivas em prol da comunidade; acionar a defesa civil quando houver necessidade; e outras ações de voluntarismo social.
Os exemplos de grandes cidades do mundo são significativos. Em Toronto, todas as praças, vias públicas e corredores de grande acesso têm os seus jardins cuidados por empresas que dão um tom de cores e de alegria ímpar para a cidade. Em Amsterdam, os estudantes sabem que, quando chegam às Universidades, passam a ter compromisso de cidadania com o município, podando árvores, cuidando dos jardins, dando assistência a creches e hospitais, orientando o trânsito, os turistas, o transporte coletivo e inspecionando áreas diversas. Com isso, somam pontos para cumprir a “grade de responsabilidade social municipal” dos seus cursos.
Isto é também possível em qualquer cidade do país. Basta as autoridades terem ATITUDE pública, identificando os agentes envolvidos e desafiando o cidadão pelo seu lado mais valioso, que é a consciência solidária, pela não omissão e pela valorização e qualificação do ambiente onde vive.
Para isto, cabe aos gestores municipais se posicionarem pela causa e pelo modelo, inspirando o munícipe pelo exemplo, pelo respeito, pela ética, pela transparência e qualidade nas suas práticas.
Aí se consolida a nova e verdadeira responsabilidade municipal cidadã.
Com a certeza de que, pelo exemplo, os herdeiros do futuro desta nação irão agradecer.
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