Costas largas
O que está acontecendo no País é a tentativa da elite política empurrar para os militares as responsabilidades que lhe cabem para esconder os erros que cometeu

Não é de hoje que os políticos brasileiros procuram envolver os militares no seu jogo de poder. Pouquíssimas lideranças enxergam nas Forças Armadas o que elas são: instituições de Estado.
Afinal, não se pode esperar que uma classe política que não compreende bem o Estado vá entender o que são as instituições que o servem.
E quanto a isso não há queima de etapas, pois o amadurecimento político de uma nação passa por dificuldades indesbordáveis. É o que vivemos hoje na luta contra a corrupção e com a exigência de prestação de contas pelo poder.
Mas enquanto essa fase não se conclui no Brasil, a má política continuará a tentar ocultar da sociedade os verdadeiros motivos que a movem.
Uma das práticas em curso é a corte que fazem aos militares, dentro e fora do governo, para jogá-los contra o governo. A esquerda tem se esmerado nesse jogo, atribuindo aos soldados profissionais um perfil que ela inventou e os envolvendo em toda sorte de polêmicas dentro da administração federal.
Da diplomacia à educação, passando pela questão das armas, sobra pouca coisa na qual eles, de alguma forma, não estariam se opondo ao governo, segundo essa visão vendida pelos operadores da intriga.
Fariam melhor os analistas e colunistas sérios se vissem na atuação dos militares no governo o desempenho esperado de qualquer cidadão brasileiro exercendo funções de elevada responsabilidade, ao invés de tentar manipulá-los com propósitos políticos.
Chega ao ridículo o suposto conhecimento dos sábios acadêmicos que deitam falação sobre a formação dos militares, do Exército particularmente.
São incapazes de entender que no Brasil a caserna se afastou definitivamente da política por força das medidas tomadas durante o ciclo dos presidentes militares quanto ao generalato e ao comissionamento dos oficiais da ativa em funções estranhas às forças.
Não sabem, ou preferem não saber, que, nos anos de 1960 e 1970, os oficiais formados na Academia Militar das Agulhas Negras aprenderam tanto as ações de combate contra forças insurrecionais quanto o Direito Constitucional, em um largo e intenso currículo que se modernizou constantemente em diversos campos de conhecimento e práticas pedagógicas.
E desconhecendo para que serve o exército nacional de um país de dimensões continentais, pretendem que o Exército Brasileiro deixe de cumprir sua missão constitucional de defesa da Pátria para se definir por missões de paz que acessoriamente cumpriu.
Para culminar, leem na participação de militares da reserva no atual governo a volta das instituições militares ao governo. Na verdade, não lêem nada de relevante, nem a diretriz do Comandante do Exército que, com peculiar clareza, reiterou que a Força é uma instituição de Estado.
Pior fazem as raposas políticas que se satisfazem com a balbúrdia nas áreas da Educação e das Relações Exteriores causada menos pela reação atabalhoada do atual governo do que pelo descarado aparelhamento praticado por anos a fio. E é preciso dizer: sob seu beneplácito.
Onde estão os verdadeiros educadores e os grandes pensadores de nossa Política Externa que não levantam a voz contra os erros grosseiros dos governos anteriores e assim contribuem, com moderação e equilíbrio, para a superação dos desafios nessas áreas? Por que se calam, dando espaço aos sempiternos radicais?
Na verdade, o que está acontecendo no País é a tentativa da elite política empurrar para os militares as responsabilidades que lhe cabem para esconder os erros que cometeu, apostando que o fracasso desse governo, cuja imagem está a eles associada, vai lhe trazer de volta o poder.
Isso não vai funcionar. O Brasil já é outro, bem diferente daquele a que se acostumou essa elite.
Ademais, os militares estão acostumados a carregar muito mais do que o fardo de suas missões institucionais. E por fé de oficio, além das costas largas, têm os olhos abertos e os ouvidos atentos.
FOTO: Reprodução/YouTube
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