Ex-executivo de TI fatura com confeitaria pop japonesa na Liberdade

Danilo Miki largou uma carreira de sucesso, migrou para a gastronomia e hoje comanda duas marcas - IKA e Kureiji Candy - que misturam cultura e criatividade e fatura alto com elas

Márcia Rodrigues
11/Jul/2025
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Ex-executivo de TI fatura com confeitaria pop japonesa na Liberdade

A transição de carreira de Danilo Miki de Sousa, 36 anos, começou com uma viagem ao Japão e terminou em dois endereços disputados da gastronomia pop no bairro da Liberdade, na capital de São Paulo. Após anos no setor de tecnologia, ele decidiu investir em uma paixão antiga: a culinária. “Sempre cozinhei e cheguei a cursar gastronomia por dois anos. Foi na minha segunda ida ao Japão que vi o sembei e tive a ideia de trazer para o Brasil”, conta.

O resultado são duas marcas: a IKA, que produz sembei (biscoito japonês crocante e de tamanho avantajado) com sabores como lula, polvo, shitake e wagyu (carne de boi de origem japonesa), e a Kureiji Candy, uma doceria especializada em doces coloridos, divertidos e "instagramáveis", como pares de Crocs, tayakis de panda, Pokémon, personagens de anime, entre outros. Ambas ficam na Galeria Pingo Doce, na Liberdade.

A IKA nasceu em maio de 2024, com investimento inicial de R$ 100 mil. Começou com um box de 10 m² e vendia cerca de 30 unidades por semana. No fim do primeiro mês, saltou para quase 1.500. Hoje, atende 400 clientes por fim de semana, com faturamento médio mensal de R$ 50 mil. Já a Kureiji, que surgiu três meses depois, fatura em torno de R$ 500 mil/mês, tem duas unidades (Liberdade e Shopping Metrô Tatuapé) e deve abrir a terceira até o fim do ano. O modelo de franquia também está no radar.

Na IKA, o preço dos produtos é único: R$ 25. Na Kureiji varia entre R$ 10 e R$ 30.

Cultura como diferencial competitivo

Para a analista de negócios do Sebrae-SP Angela Martins, histórias como a de Danilo mostram como paixão e identidade cultural podem se transformar em negócios rentáveis. “Muitos profissionais saem de carreiras estáveis em busca de um sonho mais alinhado com seus valores.”

A originalidade também conta pontos. “Produtos que encantam visualmente, como os da Kureiji, se destacam em um mercado competitivo. Eles criam conexão emocional com o consumidor e ajudam a fidelizar”, frisa Angela.

Cristina Souza, CEO da Gouvêa Foodservice, reforça que a ancestralidade e o storytelling por trás de produtos étnicos são cada vez mais valorizados. “Mesmo sem conhecer o produto, o consumidor quer experimentar. Negócios pequenos têm a vantagem de testar rápido e adaptar o cardápio”, conta Cristina.

Na Kureiji Candy, Danilo trabalha doces delicados e instagramáveis, com preços que variam entre R$ 10 e R$ 30

 

De nicho a tendência

Para Angela, produtos ligados a uma cultura específica não precisam ficar restritos a nichos. “Com comunicação acessível e boa experiência de consumo, é possível transformar o que é diferente em tendência.”

No caso da IKA, o foco ainda é local. “Queremos ser o sembei da Liberdade. Por enquanto, não penso em expandir. Mas o produto tem potencial de crescer no Brasil”, diz Danilo.

Cristina destaca que o Brasil talvez “seja um dos países do mundo que mais convive bem com essa multiplicidade cultural”.

“O Brasil é um dos países mais miscigenados do mundo. Por isso, brincamos que temos uma ‘ONU Gastronômica’ por aqui. As pessoas costumam estar abertas a experimentar novos sabores, sem preconceito, mesmo que não conheçam a origem do produto. E os produtos asiáticos, em especial, trazem um apelo de saudabilidade bastante importante.”

A Kureiji fatura em torno de R$ 500 mil por mês com suas duas unidades, uma na Liberdade e outra no Shopping Metrô Tatuapé

 

Crescimento com os pés no chão

A Kureiji, por outro lado, está em ritmo acelerado. Segundo Angela, antes de expandir, é preciso validar o modelo, ter processos bem definidos e equipe capacitada. “O Sebrae orienta que a gestão esteja profissionalizada e que o planejamento financeiro seja realista. Crescer sem preparo pode levar à perda de qualidade e sobrecarga.”

Cristina lembra que, com mais unidades, o controle muda. “É preciso trabalhar shelf life, treinamentos e cadeias de suprimento. O que funciona numa unidade pode não funcionar em três.”

Liberdade: vitrine e desafio

Instalar-se na Liberdade trouxe vantagens — fluxo intenso de turistas e visibilidade — para Danilo, mas também impôs desafios, analisa Cristina. “A concorrência é alta. O produto precisa se destacar e ir além da comida. É preciso ter proposta, marketing e experiência.”

Cristina destaca que a Liberdade é hoje, além de um polo turístico, um polo de inovação do ponto de vista de gastronomia. “É muito bacana quando a gente olha esse tipo de regionalidade em termos de entrega gastronômica no mercado brasileiro. Os bairros Vila Madalena, Pinheiros e Itaim Bibi também ocupam esses lugares, mas com diferentes culinárias. O fato é que quando você está num bairro que tem tantos produtos assim, você vive uma concorrência. Por isso, o seu produto realmente precisa se destacar. Você precisa trazer propósito, ter um processo de ativação de marketing bastante bem desenvolvido para ter sucesso.”

Os doces em formato de Crocs estão entre os mais procurados e costumam lotar a unidade da Kureiji da Liberdade

 

Doces "fofos" para adultos também

A "fofura" dos produtos da Kureiji é parte da estratégia. Tayakis de panda, doces inspirados em animes, bebidas decoradas com flores e formatos inusitados (como o docinho em forma de Crocs) são pensados para gerar encantamento.

Para Cristina, o apelo visual é um diferencial competitivo que não se limita ao público infantil. “Produtos bonitos e bem apresentados têm força nas redes. Mas não basta serem estéticos: precisam entregar sabor”, pontua.

Dicas para quem quer seguir o mesmo caminho

Quem deseja abrir um negócio inspirado em gastronomia afetiva ou confeitaria deve, antes de tudo, planejar. “Não basta ter paixão, é preciso se apaixonar pela gestão”, resume Cristina.

Angela recomenda começar pequeno, estudar o mercado e estar aberto ao aprendizado constante. “Erros mais comuns incluem subestimar custos e não ter um diferencial claro.”

Danilo, que largou o CLT para vender sembei e doces "fofos", é prova de que, com visão, criatividade e estrutura, transformar paixão em negócio é possível. E lucrativo.

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IMAGENS: Tais Barros

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