Julho, Brasil, São Paulo e a ACSP

A Associação Comercial de São Paulo teve participação ativa em dois movimentos ocorridos em julho que marcaram a história paulista e brasileira: a Revolta Paulista, de 1924, e a Revolução Constitucionalista de 1932, rememorada neste dia 9

Marcel Solimeo
09/Jul/2025
Economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo
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Julho, Brasil, São Paulo e a ACSP

Julho é um mês muito especial para a ACSP pelo protagonismo que teve em dois eventos de grande repercussão na história do Brasil. O primeiro teve seu início em São Paulo no dia 5 do ano de 1924, mas era desdobramento de um movimento militar que eclodiu no Rio de Janeiro, a Revolução Tenentista de 1922, também conhecida como os Dezoito do Forte, quando um grupo de oficiais de baixa patente se rebelou, dando origem a um Movimento que pretendia derrubar o presidente Artur Bernardes.

Derrotados nessa tentativa, se reorganizaram em São Paulo, onde contaram com o apoio de oficiais da então Força Pública e ocuparam o Palácio do Governo, obrigando o governador Carlos de Campos a fugir para a região de Penha, o que deixou a cidade acéfala e sujeita a saques e incêndios.

O então presidente da ACSP, José Carlos Macedo Soares, em conjunto com o prefeito Firmiano Pinto, criaram um Corpo de Bombeiro e uma polícia municipal para proteger o comércio e restaurar a ordem, para o que precisaram pedir autorização aos revoltosos, que eram o poder de fato na cidade.

São Paulo foi então bombardeada por terra e pelo ar, com a destruição de muitos prédios e a morte de cerca de 500 civis. Após a saída dos revoltosos em direção ao interior, Macedo Soares foi preso e exilado, acusado de ter colaborado com os rebeldes, quando, na verdade, apenas procurou convencê-los a se retirar para poupar a população civil dos bombardeios, para o que manteve contatos com os líderes do movimento.

Imagens da Revolução de 1924: em sentido horário, fábrica Crespi destruída em bombardeio aéreo; trincheira na região central da cidade; locomotiva atingida por bombardeio aéreo; e soldados (Fotos: Acervo ACSP)

 

No exílio, Macedo Soares escreveu um livro relatando sua atuação durante o período da ocupação, de 5 a 28 de 1924, desmentindo qualquer apoio aos revoltosos. Nesse livro, Justiça, ele apresenta ainda um parecer de um especialista que afirma que as convenções da época condenavam o bombardeio de populações civis, e outro de um perito militar, que mostrava a ineficiência dos ataques aéreos aleatórios.

Macedo Soares, depois de sua volta do exílio, exerceu funções públicas e participou ativamente da política.

Revolução Constitucionalista - Em julho de 1932, no dia 9, um exército improvisado e mal equipado partia de São Paulo rumo ao Rio de Janeiro para exigir de Getúlio Vargas o cumprimento de sua promessa de restabelecer o regime constitucional e respeitar a autonomia dos estados no que ficou conhecida como Revolução Constitucionalista, hoje mais conhecida como Revolução de 32.

A ACSP teve participação intensa na preparação do movimento, coordenando a atuação da classe empresarial, cuidando da logística e da arrecadação de fundos. Organizou a campanha Ouro para o Bem de São Paulo, que teve grande participação da população, sem distinção de classe social.

Sem contar com o apoio de outros estados e com uma inferioridade muito grande de soldados e equipamentos, São Paulo foi derrotado no campo militar, mas teve sua vitória política com a aprovação da Constituição de 1934.

Imagens da Revolução Constitucionalista de 1932: em sentido horário, boca do túnel da Mantiqueira; soldados no município de Eleutério; teste de canhão; e combatentes no município de Amparo (Fotos: reprodução do livro 1932, um Relato Inédito)

 

O presidente da ACSP à época, Carlos de Souza Nazareth, assumiu a responsabilidade pela participação dos empresários no movimento, sendo preso no Rio de Janeiro e, depois, exilado. No Rio de Janeiro, Nazareth recebeu grande apoio da ACRJ e, antes de partir para o exílio, escreveu   dizendo que estava tranquilo e estimulando seus companheiros de diretoria a se manterem firmes na defesa dos ideais com a frase “não esmorecer para não desmerecer”

Os recursos arrecadados pela campanha Ouro para o Bem de São Paulo, que não foram utilizados devido ao fim do conflito, foram doados para a Santa Casa, que construiu um novo pavilhão e o edifício “Ouro para o Bem de São Paulo”, com 13 andares que lembram as 13 listras da bandeira paulista.

A diferença entre os dois movimentos é que o primeiro, o de 1924, foi de origem militar e visava uma mudança profunda com o fim da “República Velha” e não teve a adesão popular, embora alguns civis tenham apoiado e, no início, os anarquistas também fossem favoráveis, enquanto a Revolução de 32 teve origem no povo, que a apoiou.

A ACSP reverencia seus ex-presidentes, diretores e conselheiros que, nas duas oportunidades, souberam manter as tradições de sua história centenária e defender não apenas os empresários, como a população paulista.

 

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