Trajano, do Magalu: ignorar o varejo físico é perder 80% de chance de venda
O CEO da companhia foi buscar inspiração no ecossistema varejista chinês, que tem forte presença de influenciadores digitais nos espaços físicos, para estruturar a Galeria Magalu, loja de departamento em construção na Paulista

Fred Trajano assumiu o comando do Magazine Luiza em 2016 com a missão de digitalizar a companhia, que, na última década, viu o faturamento no canal online saltar de R$ 2 bilhões para R$ 46 bilhões. Apesar do forte crescimento no ambiente digital, o presidente da empresa diz nunca ter desistido do varejo físico, canal que ainda representa 80% das vendas do varejo brasileiro.
De olho nesse potencial, a expansão do ecossistema Magalu, que engloba empresas naturalmente online, como Netshoes, Época Cosméticos, Estante Virtual e KabuM!, também envolve a criação da Galeria Magalu, uma loja de departamento na Avenida Paulista, no endereço da antiga Livraria Cultura. A loja, que deve ser finalizada até o final de 2025, propõe uma nova experiência de varejo físico, com mais integração entre as marcas.
Durante a Latam Retail Show 2025, realizada na última terça-feira (17), Trajano falou ao Diário do Comércio sobre as expectativas para a nova loja e a importância do varejo físico. Confira a entrevista:
Diário do Comércio - O que podemos esperar da loja conceito na Paulista?
Fred Trajano - É um espaço de 4 mil metros quadrados na Avenida Paulista, no qual pretendemos ter uma integração com nossos ativos online. Lá temos o Teatro Eva Herz, que ficava dentro da Livraria Cultura [fechada em 2023], e que contará com o naming rights de uma plataforma digital que ainda não posso divulgar. O teatro vai misturar peças tradicionais com conteúdos de creators (criadores) que fazem sucesso no online.
Além disso, toda a loja estará configurada para transmissões ao vivo (lives) e para a integração de influenciadores do mundo físico. Será um espaço de encontro, onde a beleza encontra a tecnologia e o influenciador digital encontra sua audiência física.
Essa loja marca um novo momento da companhia?
Fred Trajano - Essa loja vai marcar, simbolicamente, a conclusão do meu segundo ciclo estratégico. O primeiro foi a digitalização da companhia. O segundo foi a construção do ecossistema do Magazine Luiza, no qual diversificamos as categorias de atuação, fomos além dos eletrodomésticos e adquirimos empresas como Netshoes, Época Cosméticos, Estante Virtual e KabuM!. Nossa intenção sempre foi trazer para essas marcas a experiência física, e foi aí que surgiu a ideia de criar uma loja de departamento reunindo todas elas, em um ponto icônico de São Paulo, dentro do Conjunto Nacional, onde vamos apresentar uma nova proposta de varejo físico.
Qual é a importância da loja física para os consumidores?
Fred Trajano - Eu sempre acreditei na integração dos dois canais. Hoje, a internet representa cerca de 15% do varejo brasileiro, ou seja, mais de 80% ainda é físico. Claro, algumas categorias estão mais digitalizadas do que outras, mas, no geral, 80% dos consumidores ainda vão até a loja para comprar um produto. Então, se você ignora o varejo físico, está perdendo 80% de possibilidade de venda. As marcas precisam do espaço físico para que o consumidor experimente o produto e as conheça. No ambiente digital, isso se reduz a produto e preço, é uma experiência de comodidade, que acaba despersonificando a marca.
O varejo físico é fundamental para explicar a tecnologia da empresa e construir relacionamento com o cliente. Essa nova loja, por exemplo, vai dar espaço para empresas como Chanel, Nvidia, L'Oréal, Adidas e editoras de livros, que poderão expor seus produtos e contar suas histórias, o storytelling por trás de cada marca.
Você comentou que tem feito mais viagens à Ásia do que aos Estados Unidos. O que tem tirado dessas viagens?
Fred Trajano - O modelo de ecossistema e a presença muito forte dos influenciadores digitais no espaço físico. Isso foi uma grande inspiração vinda do mercado chinês para a loja-conceito. Lá, encontramos lojas criadas exclusivamente para live commerce, sem atendimento ao cliente no local. Esse poder dos influenciadores digitais em vender produtos, conhecido como social commerce, é uma das principais inspirações que trago da China.
A taxa de juros tem segurado o consumo e prejudicado o varejo. Como você vê essa situação?
Fred Trajano - Ela não está prejudicando apenas o varejo, mas todos os segmentos da economia brasileira, com exceção de alguns bancos. Inclusive, a nossa própria operação financeira tem dado resultados. Mas eu acho que já passou da hora de começarmos a reduzir a taxa. Acabamos de sair de um mês de deflação, e não há nenhum indicador de que a inflação vá voltar a subir. Os juros nos Estados Unidos estão caindo, e está na hora de o Brasil também começar a baixar os seus.
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IMAGEM: Latam Retail Show 2025/divulgação