Setor público já gastou R$ 1 trilhão a mais do que arrecadou no ano

Enquanto a arrecadação estimada pelo Impostômetro totaliza R$ 2,88 trilhões, os gastos públicos, acompanhados pelo Gasto Brasil, somam R$ 3,84 trilhões

Rebeca Ribeiro
26/Set/2025
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Setor público já gastou R$ 1 trilhão a mais do que arrecadou no ano

Os governos federal, estaduais e municipais já gastaram cerca de R$ 1 trilhão a mais do que arrecadaram no ano, até o mês de setembro, de acordo com o cruzamento dos dados do Gasto Brasil e do Impostômetro, ambas ferramentas das associações comerciais que estimam em tempo real os recursos que entram e saem dos caixas do setor público. 

Enquanto a arrecadação estimada pelo Impostômetro, do início do ano até esta sexta-feira, 26/09, é de R$ 2,88 trilhões, os gastos públicos, acompanhados pelo Gasto Brasil, somam R$ 3,84 trilhões - sendo R$ 1,64 trilhão saídos dos caixas do governo federal, R$ 1,08 trilhão dos estados e R$ 1,11 trilhão dos municípios.

Quando o Gasto Brasil foi lançado, em abril deste ano, ele registrava R$ 1,6 trilhão, enquanto, à época, o Impostômetro marcava R$ 1,2 trilhão, uma diferença de R$ 400 bilhões. Em cinco meses, as despesas dos governos cresceram 139%.

Segundo Marcel Solimeo, economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o aumento dos gastos públicos pode levar o Brasil a um cenário incerto nos próximos meses, com o aumento da dívida pública, dos precatórios - garantia judicial de que um ente público irá pagar uma dívida - e elevação da taxa básica de juros, o que reduziria o crescimento da economia e afastaria investimentos. 

Solimeo explica que, à medida que o governo gasta além do orçamento, a dívida pública aumenta, assim como a emissão de precatórios, o que gera mais dívidas. “A dívida pública no final do ano estará em 80% do PIB, é muito alta considerando a taxa de juros que temos”, diz o economista.

No caso do governo federal, considerando o cenário fiscal atual, Solimeo diz que restarão poucas opções: dar o calote nos credores ou vender títulos públicos e emitir mais moedas, aumentando a circulação de dinheiro dentro do país, o que pode levar a um aumento da inflação

Neste cenário, explica Ulisses Ruiz de Gamboa, também economista da ACSP, é provável que o Banco Central mantenha a taxa de juros no patamar atual, de 15% ao ano, ou a aumente, com base nas expectativas para a inflação. “Para 2026, temos visto uma inflação teimosa, sem expectativa de queda. No final, as despesas do governo aumentam e exigem uma carga tributária maior, e isso se torna uma bola de neve”, diz Ruiz de Gamboa.

Maiores gastos

O Gasto Brasil aponta que, entre as principais despesas do governo federal, se destacam 11 categorias que representam 96% do total. As maiores despesas neste grupo são com a Previdência, Despesas com Pessoal e Encargos Sociais, sendo que essas três categorias correspondem a cerca de 60% daquele R$ 1,64 trilhão saído dos cofres da União no ano até setembro. Os gastos federais com a Previdência no ano de 2025 somam, pelos dados do Gasto Brasil, R$ 791 bilhões. 

A previdência social é um problema macroeconômico, explica Solimeo, que deve ser sentido pelas futuras gerações. “O sistema é baseado na contribuição dos empregados, que funciona quando há mais pessoas entrando no mercado de trabalho do que pessoas se aposentando. Quando a expectativa de vida da população aumenta, isso faz com que o governo tenha que achar outra fonte de financiamento para a Previdência”, diz.

Essa também é a posição de Alfredo Cotait Neto, presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), que diz ser necessário mudar o sistema previdenciário para os ingressantes no mercado de trabalho. “Mais de 100 milhões de brasileiros vivem de benefícios do Estado, 45 milhões estão na Previdência, 80% deles recebem um salário mínimo, 51% recebem benefícios como Bolsa Família e outros programas sociais. Logo vai faltar dinheiro”, afirma Cotait.

Para o dirigente da CACB, "é preciso preparar o país para a geração de renda, para que a população não dependa somente de benefícios do governo. Mas, para isso, é necessário investimentos em educação e um crescimento econômico sustentável."

Cotait também critica os gastos exagerados com o funcionalismo público, que hoje abriga 12 milhões de pessoas. Para o presidente da CACB, "com a tecnologia e o surgimento da inteligência artificial, muitas demandas que exigiam um quadro maior de pessoal podem ser reformuladas e simplificadas, reduzindo as despesas governamentais."

 

IMAGEM: karina Lignelli/DC

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