A visão de Lula sobre os empresários
‘A narrativa de que os aumentos de impostos vão atingir apenas os “super-ricos” ou, para simplificar, apenas as bets, bancos e bilionários, está longe da realidade, pois ignora que a economia é um sistema de vasos comunicantes’

O presidente Lula falou recentemente que “empresário fica rico porque os trabalhadores trabalham, não ele”, recorrendo a um marxismo subdesenvolvido, fomentando a luta de classes para justificar as medidas tributárias enviadas ao Congresso. Parece claro que seu discurso de que os pobres são pobres devido à ganância dos ricos tem claramente conotação eleitoral.
Analisando sua política, fica clara a preferência do presidente pelas empresas estatais, como se constata pelo grande número das que foram criadas em seus mandatos. As razões para essa preferência são bastante claras, lembrando o que aconteceu nos mandatos anteriores, quando as estatais foram utilizadas para fins políticos e vítimas de desvio de recursos.
Neste mandato, além do déficit expressivo das estatais, um levantamento parcial feito pela imprensa mostrou que 273 indicações para essas empresas foram por razões partidárias ou políticas, sem atender às exigências da lei aprovada no governo Temer para tentar protegê-las dessa prática.
O presidente parece esquecer que, para cobrir o déficit das estatais, é preciso que existam empresas privadas lucrativas que paguem impostos suficientes para cobrir o rombo.
A narrativa de que os aumentos de impostos vão atingir apenas os “super-ricos” ou, para simplificar, apenas as bets, bancos e bilionários, está longe da realidade, pois ignora que a economia é um sistema de vasos comunicantes. Os bilionários serão atingidos apenas superficialmente, pois, como já vem acontecendo, podem facilmente se deslocar para outro país, levando seus recursos. Os bancos têm total facilidade para transferir qualquer aumento de tributação para seus clientes. O governo incentiva o endividamento das classes de menor renda e, depois, aumenta o imposto sobre os bancos, que transferirão para os que se endividaram. Quanto às bets, o controle é muito difícil e não se sabe o potencial efetivo de arrecadação que se conseguirá. Sem fazer juízo de valor, Balzac, em seu livro Código dos Homens Honestos, de 1825, criticava fortemente o Congresso francês, que durante dez anos discutia como taxar o jogo, ao invés de se preocupar em coibi-lo.
Ficará estranho o governo tentar desincentivar a jogatina, mas torcer para arrecadar bastante. Aliás, o governo explora o jogo por meio da Caixa Econômica, que oferece 10 modalidades de apostas e que em determinadas épocas, como a de São João, oferece grandes prêmios que arrecadam valores expressivos.
É lamentável que o ministro Haddad, que parecia ser um amortecedor aos ímpetos intervencionistas do governo e canal para o diálogo, aderiu à narrativa do presidente de que é preciso tributar os ricos para ajudar os pobres, e as medidas propostas atingirão apenas “moradores da cobertura”, quando ele sabe, ou deveria saber, que a classe média será a mais atingida, e que os endividados serão atingidos pelo aumento dos tributos sobre os juros.
Também essa postura de procurar justificar as dificuldades do presente buscando culpados no passado, ao invés de discutir medidas para o futuro, e dar sinalizações positivas para os empresários tomarem suas decisões, seja de investimentos ou no dia a dia, em nada contribui para melhorar o ambiente de negócios.
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IMAGEM: Ricardo Stuckert/PR