Brasil fortalece relação com Indonésia e mira outros mercados na Ásia

A produção brasileira com certificado Halal - que segue princípios da lei islâmica - tem um mercado potencial de mais de 2 bilhões de consumidores para ser explorado

Mariana Missiaggia
24/Set/2025
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Brasil fortalece relação com Indonésia e mira outros mercados na Ásia

Há pouco mais de um mês, o Brasil ampliou a sua aliança comercial com um promissor mercado para carne bovina: a Indonésia. Desde então, 17 novos frigoríficos brasileiros foram autorizados a exportar para o país do sudoeste asiático, um aumento de 80% no período, somando agora um total de 38 estabelecimentos habilitados.

Com uma população superior a 275 milhões de habitantes, a Indonésia é o quarto país mais populoso do mundo e representa uma oportunidade estratégica para as exportações brasileiras, na opinião de Márcio Elias Rosa, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Na última segunda-feira (22), Rosa participou do 7º Fórum de Negócios Indonésia–América Latina e Caribe (INA-LAC Business Forum), em São Paulo. O encontro reuniu autoridades e empresários para ampliar parcerias, estimular investimentos, facilitar novas redes de negócios, superar barreiras comerciais e ampliar as oportunidades em setores como o de alimentos, cosméticos, produtos têxteis, energia e automotivo.

Promovida anualmente pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Indonésia, a Missão Empresarial INA-LAC busca fortalecer a cooperação econômica e comercial entre a Indonésia e os países da América Latina e do Caribe (ALC) e tem o apoio da São Paulo Chamber of Commerce, o braço internacional da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

Ao mencionar os problemas provocados pela imposição das sobretaxas a produtos brasileiros pelos Estados Unidos, Rosa destacou o programa de mitigação implantado pelo governo federal para amenizar o impacto na economia. Além disso, defendeu a necessidade de os empreendedores exportarem mais como parte da estratégia para tornar o Brasil um país mais competitivo no exterior.

“Um país justo é aquele que investe, mas também recebe investimento. Essa é a economia que deve prevalecer. Tudo que vai na contramão disso deve ser visto como algo episódico e que, em determinado momento, será superado. A América Latina tem um futuro muito promissor de fortalecimento comercial com o restante do mundo", disse.

Ao citar as afinidades culturais, políticas e econômicas entre Brasil e Indonésia, o ministro destacou a importância de fortalecer uma relação de confiança e parceira com o país asiático em "um momento em que o Brasil sustenta estabilidade econômica e condições atrativas para novos investimentos, com uma agenda industrial e tecnológica potente."

Nessa linha, ele citou políticas importantes, como a Nova Indústria Brasil, o Programa Mover e o RenovaBio, além da recente adoção da mistura obrigatória de 30% de etanol na gasolina e de 15% de biodiesel no diesel, como exemplos da aposta do Brasil na inovação e na descarbonização, se consolidando como liderança global em energias limpas.

Por fim, Rosa apontou que o país registra PIB em crescimento, inflação em queda e desemprego no menor nível desde 2012, além de avanços estruturais como o Novo PAC - que prevê R$ 1,7 trilhão em investimentos -, a reforma tributária e o Plano de Transição Ecológica.

Acep Somantri, conselheiro sênior do ministro das Relações Exteriores da Indonésia, disse enxergar o Brasil como um parceiro estratégico e de longo prazo, e com muita complementaridade entre as suas economias. "Nossa relação está concentrada principalmente nos produtos agropecuários, mas estamos aqui para subir o nível e aumentar as relações comerciais entre Brasil e Indonésia."

Hoje, o grande destaque dessa parceria comercial está nas exportações brasileiras de proteína halal (processada de acordo com princípios da lei islâmica), que cresceram 25% no ano passado. O número foi impulsionado pela forte demanda por frango e carne bovina, que são as principais apostas do agronegócio nacional para atender ao mercado muçulmano global. O setor movimenta cerca de US$ 5 trilhões anuais, dos quais US$ 1,5 trilhão apenas em alimentos, segundo dados da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.

Em árabe, a palavra halal significa “permitido” e designa produtos cujo consumo é permitido por Deus, segundo o Alcorão, livro sagrado do islamismo. No agronegócio, o mercado halal envolve rigoroso controle de produção para atender às exigências religiosas, desde a alimentação e o manejo dos animais até os processos de abate, armazenamento e transporte - e num contexto geral, mesmo em países sem origem muçulmana, o selo se tornou sinônimo de qualidade.

Até 2030, o número de muçulmanos no mundo poderá chegar a 2,2 bilhões. Se a previsão se confirmar, o islamismo será praticado por 25,8% da população mundial. Apesar do protagonismo do Brasil para atender ao mercado halal com carnes de frango e bovina, Mauricio Manfré, assessor de negócios internacionais da São Paulo Chamber of Commerce da Associação Comercial de São Paulo, diz que ainda há espaço para o país ampliar a oferta de outras commodities agrícolas, como açúcar, soja e milho.

"Com essa situação dos Estados Unidos, nossos exportadores tiveram que buscar novos mercados, e o melhor mercado é a Ásia, que não se restringe à China e ao Japão", disse.

Manfré aponta que, entre os países membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), a Indonésia foi o terceiro maior investidor no Brasil em 2023, atrás de Singapura (US$ 20,1 bilhões) e Tailândia (US$ 2 bilhões). No último ano, as exportações chegaram a US$ 24,4 bilhões, com destaque para petróleo, minério de ferro e bens agrícolas.

Entre 2019 e 2023, as vendas brasileiras para a Asean tiveram crescimento médio anual de 19,8%, taxa superior ao crescimento médio anual do valor total exportado pelo Brasil nesse período (11,3%), o que indica que o bloco tem ganhado destaque e relevância estratégica no comércio exterior brasileiro. Com um PIB agregado de US$ 3,8 trilhões e uma população de 682 milhões, a Asean cresce, há décadas, como nenhuma outra região do mundo, aponta Manfré.

No entanto, entre os desafios para essa diversificação está a logística, explica. Isso porque uma viagem de exportação de navio do Brasil para a Ásia leva, em média, 45 dias. Esse tempo, no entanto, pode variar ainda mais dependendo da rota, do destino dentro da Ásia, tipo de carga e da própria empresa de transporte marítimo.

"Temos a promessa da ferrovia transoceânica, um projeto logístico internacional, com apoio da China, para ligar o Oceano Atlântico ao Pacífico. Isso facilitaria a exportação, pois reduziria os custos de logística e encurtaria em 20 dias a viagem. Acho que é por aí que o governo tem que pensar, mas, sem dúvidas, essa relação com a Ásia continua sendo uma prioridade", disse Manfré.

 

IMAGEM: SP Chamber of Commerce/ACSP

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