Empresários de alimentos e bebidas miram América Central, Caribe e Oriente Médio

Com incertezas rondando os EUA, comitiva brasileira aproveitou a Americas Food & Beverage Show em Miami para abrir oportunidades em outros mercados

Estela Cangerana, dos Estados Unidos
19/Set/2025
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Empresários de alimentos e bebidas miram América Central, Caribe e Oriente Médio

O maior mercado consumidor do mundo e historicamente um dos maiores parceiros do Brasil não é para ser ignorado por nenhuma empresa que queira se estabelecer internacionalmente. Mas, em tempos de incertezas sobre o futuro e graves consequências econômicas de uma profunda crise política, empresários brasileiros em missão comercial aos Estados Unidos encontraram na feira Americas Food & Beverage Show (AB&F), em Miami (Flórida), na semana passada, uma porta de entrada para novas relações globais.

Compradores de países da região da América Central, ilhas do Caribe e Oriente Médio chamaram a atenção entre os visitantes que marcaram presença no pavilhão brasileiro. “Feiras como a Americas Food são muito interessantes para empresas que querem avançar no mercado internacional. Não é um evento de alto volume e sim de um público altamente qualificado”, afirma Gloria Kang, gerente de projeto do Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras (CECIEx), uma das instituições que liderou a missão brasileira.

Kang destaca que os contatos abertos, “além de trazerem a chance de negócios futuros, também são efetivos para mostrar constância na exposição externa, um fator que é fundamental para conquistar novos públicos”.

A opinião é compartilhada por Maurício Manfré, sócio-diretor da Ultramares Negócios Internacionais e delegado regional do CECIEx em Brasília. Para ele, o momento atual é bastante propício para o Brasil explorar possibilidades que estavam subdimensionadas. “Temos perspectivas muito boas em diferentes países de toda a América Latina, África e Oriente Médio, por exemplo. São mercados com potencial e que podemos entrar relativamente rápido. Há muitas oportunidades geradas justamente pelas incertezas nas relações com os Estados Unidos”, diz.

Maurício Manfré, sócio-diretor da Ultramares: incertezas nas relações com os Estados Unidos geram oportunidades em mercados ainda pouco explorados

 

Segundo ele, com o tarifaço, alguns compradores dos EUA adiaram os negócios, mas estão voltando e os planos da Ultramares para o ano se mantêm. Mas essa não é uma realidade que se aplique aos produtos de muitas outras empresas, e as oportunidades antes “deixadas de lado” podem render bem aos brasileiros.

Muito a ser desbravado

Atualmente, entre os vizinhos da América do Sul, apenas Argentina (na 3ª posição) e Chile (na 9ª colocação) aparecem na lista dos principais parceiros do Brasil, no acumulado de janeiro a agosto deste ano, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). No período, o Brasil exportou para a América do Sul inteira cerca de US$ 28,1 bilhões, uma alta de 19,6% nos embarques em relação a igual intervalo do ano passado. A região respondeu por 12,3% das vendas brasileiras ao exterior.

Para a América Central e Caribe foram exportados pouco mais de US$ 3,6 bilhões, uma queda de 6,7% sobre o ano passado e participação de apenas 1,6% nas transações do Brasil com o exterior. Já o destino América do Norte recebeu 15,9% dos embarques, equivalentes a US$ 36,1 bilhões e aumento de 2,8% sobre 2024.

Os Estados Unidos, sozinhos, responderam por US$ 26,6 bilhões desse total (alta de 1,6% sobre 2024) e fatia de 11,7% das vendas brasileiras; e o México adquiriu cerca de US$ 5 bilhões, queda de 1,4% e participação de 2,2% no comércio com o Brasil.

Fora das Américas, regiões como as do Oriente Médio e África participam com, respectivamente, 4,2% e 4,1% das transações com o Brasil, com vendas de US$ 9,6 bilhões e US$ 9,3 bilhões em 2025. Ambos os blocos registraram retração nos negócios no acumulado deste ano.

Receptividade e imagem positiva

Para os empresários, esses números são uma mostra do quanto há de espaço a ser conquistado em todos esses mercados. Na África, Manfré cita, por exemplo, África do Sul, Moçambique, Angola, Quênia e Gana como possíveis pontos de interesse para os produtos brasileiros.

O diferencial para o sucesso em novos mercados, segundo os especialistas, é um bom planejamento e estratégia. “Temos tido uma enorme receptividade no Oriente Médio e nossa entrada lá cresce em um ritmo bastante positivo. Acabei de me encontrar com um comprador da Arábia Saudita e nossa conversa foi promissora”, revela Valéria Natal, CEO da destilaria Stock, que participou da missão brasileira e expôs suas duas marcas (Stock e Kaly) durante a Americas Food & Beverage.

De olho nos países árabes, Valéria Natal (à direita), CEO da destilaria Stock, aproveitou a missão em Miami para apresentar seus xaropes sem álcool para preparação de drinks

 

Por conta das restrições ao álcool nos países árabes, a executiva apostou em uma certificação de sustentabilidade socioambiental internacional em sua linha de produtos Kaly, de xaropes sem álcool com sabores típicos do Brasil, como açaí e guaraná, versáteis para drinks, e coquetéis sem álcool.

Enquanto busca condições de viabilizar a permanência de seus produtos nos EUA, onde está há oito anos, Natal também aproveitou a missão em Miami para costurar novas oportunidades na região do Caribe, em localidades como as Bahamas e Ilhas Cayman.

Missão brasileira

A missão de empresários brasileiros que esteve em Miami na semana passada foi organizada pelo projeto Brazilian Suppliers, em parceria com o CECIEx e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). O grupo contou com 11 empresários, entre fabricantes e comerciais exportadoras e importadoras, que representaram 25 diferentes marcas de alimentos e bebidas.  Na agenda do grupo, além da participação na feira, estiveram visitas ao escritório da ApexBrasil e visitas técnicas, como à Warehouse da Aprile, empresa de armazenamento e despacho de cargas internacionais.

A 29ª edição da Americas Food & Beverage Show em Miami reuniu em três dias da semana passada mais de 10 mil visitantes e 800 expositores de 93 países, divididos em 18 pavilhões internacionais, entre eles o brasileiro.

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IMAGENS: CECIEx/divulgação

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