Falta de luz afeta lojas do Centro de SP há 24 horas. Enel não explica problema
Quedas de energia começaram por volta das 15h da última segunda-feira e continuavam a afetar lojistas na tarde desta terça. Alguns improvisaram, puxando energia com extensões de prédios vizinhos, mas a maioria já calcula os prejuízos

Comerciantes do Centro da capital paulista, com lojas localizadas no trecho da rua São Bento que desemboca na Praça do Patriarca, foram afetados por falta de luz que dura quase 24 horas e tem prejudicado o movimento de vendas e o armazenamento de alimentos.
Desde junho, três quedas de energia em dias diferentes (2, 17 e 24), que duraram até 12 horas, foram protocoladas na Enel por lojistas como a rede de perfumarias Princesa, segundo relatou a gerente Adriele Almeida ao Diário do Comércio. Agora, a nova queda, que começou por volta das 15h da última segunda-feira (21), ainda afeta diversas lojas, exceto algumas com gerador.
Sem saber ao certo se há algum problema estrutural na rede de energia subterrânea, ou se os apagões são ocasionados pelas obras de revitalização do Triângulo Histórico nas imediações, Adriele disse que, após um "barulho estrondoso", as luzes piscaram e finalmente apagaram.
"Tivemos que finalizar o atendimento e fechar as portas. A Enel enviou um gerador por volta de 18h, mas depois foi preciso vir uma equipe subterrânea, que só chegou às 19h30", conta.
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Hoje, a unidade da rede de perfumarias localizada no antigo prédio onde funcionou a Lojas Marisa, na esquina da São Bento com a Praça do Patriarca, funcionava normalmente e a energia tinha voltado. Mas a do n° 259 da mesma rua estava de portas fechadas, assim como diversas lojas vizinhas e algumas do lado oposto, caso do Empório Alex, Havaianas e Lilac.
"Tem loja aberta com tudo escuro, mas sem o servidor ligado não dá para vender", afirma. "A gente ainda consegue remanejar funcionários para outras lojas (a rede tem mais uma unidade próxima, no Largo da Misericórdia, 23), mas e quem não pode? A Enel nunca explica o motivo, mas só de ontem para hoje já contabilizamos perdas de 50%, 60%," calcula Adriele.

Nicole Silva, gerente da Empório Alex, de moda masculina e feminina, conta que, por conta da falta de luz, teve que fechar a loja duas horas mais cedo, às 18h, pois nesses casos a ameaça de furtos e a insegurança aumentam. "Temos que ficar alertas. A previsão de retorno da Enel era para às 19h30 de ontem, mas hoje abrimos a loja e continuamos sem energia", reclamou.
Ela explica que a rede decidiu manter a loja aberta na expectativa de a luz voltar. "Mas como não temos retorno, ficamos vendidos", afirma ela, que sentiu queda de 90% no movimento.
Gerente de uma unidade de O Boticário, Rosana Souza, que trabalha há oito anos na rua São Bento, diz que a falta de energia e de comunicação com bancos "acaba com as vendas", principalmente na hora do almoço, horário em que quem trabalha no Centro costuma fazer compras.
"Já sentimos uma queda de 30% nas vendas. Não sabemos se há algum problema, mas se pelo menos houvesse algum aviso de manutenção, a gente conseguiria se preparar."
Alimentos perdidos - Em comércios que vendem comida, a situação fica mais crítica, como na lanchonete Bom & Barato. Sem poder ligar o forno para assar os salgados, nem a máquina de café, carro-chefe do estabelecimento, o gerente Augusto de Souza disse contabilizar "100% de prejuízo desde que a luz começou a piscar até cair de vez", por volta das 16h de ontem.
Sem contar os produtos congelados, que não devem aguentar muito tempo sem luz. "Ligamos ontem na Enel várias vezes e disseram que a energia ia voltar às 19h30, depois às 22h, às 8h de hoje, às 10h, ao meio-dia... Mas até agora, nada. Com a loja escura, alguns clientes perguntam se está funcionando, mas muitos preferem nem entrar."
Já no restaurante Central Kilo's Grill, a falta de energia na segunda-feira também fez o estabelecimento encerrar um pouco mais cedo, segundo o gerente Marciano Noronha. Enquanto isso, a equipe se desdobrou atrás de alternativas para manter os produtos refrigerados, pois possui câmara fria para os alimentos e geladeira de bebidas.

Hoje, sem luz ainda, mesmo que a concessionária tenha dado algumas previsões de horário de retorno, Noronha comprou extensões para puxar a eletricidade do estabelecimento do prédio vizinho ao restaurante, que fica em uma sobreloja, para manter o atendimento do almoço.
"Percebemos que o movimento caiu 40%. Por enquanto, a câmara fria fechada 'segura' (a conservação), mas já acionamos a nutricionista para, se a luz não voltar até amanhã, avaliar algum possível foco de deterioração e até de perda de alimentos".
O que diz a Enel - Procurada, a Enel afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que foi acionada e "uma equipe já está a caminho", mas não explicou os motivos da queda de energia prolongada. Durante a conversa com comerciantes, um veículo da concessionária estava parado no local.
A Enel anunciou no início do mês um reajuste de 13,84% nas tarifas de energia para os usuários de São Paulo, mas desde o final de 2023, quando um apagão de quatro dias derrubou as vendas do comércio em 6,4% (dados da Cielo), a Capital paulista sofre com outros apagões, e o Centro, que inclui o Triângulo Histórico, a 25 de Março e o Mercadão, foi afetado diversas vezes neste período.
IMAGENS: Cesar Bruneli