COP 30: 'Observatório do Clima' vai apontar soluções para a agenda climática

Tendo como palco o Conselho do Agronegócio da ACSP, entidades empresariais se uniram em torno da iniciativa para acompanhar políticas climáticas, indicar caminhos e fornecer dados que auxiliem na transição para modelos mais sustentáveis

Karina Lignelli
18/Ago/2025
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COP 30: 'Observatório do Clima' vai apontar soluções para a agenda climática

Faltam menos de 90 dias para a realização da COP 30 em Belém do Pará, evento que coloca o Brasil no centro das atenções globais em um momento crucial para a agenda climática. Em meio a avanços e desafios, a classe empresarial decidiu se unir com objetivo de ser parte da solução, e não uma 'vilã' em meio à crise climática, com a proposta de criar uma espécie de 'Observatório do Clima' para a conferência, nos moldes da rede de organizações da sociedade civil que já existe para promover ações e debates sobre mudanças no clima no país.

Esse foi o resultado do seminário "COP 30 - Uma agenda propositiva", realizado pelo Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo nesta segunda-feira, 18/08. A iniciativa, proposta por Fausto Longo, ex-parlamentar ítalo-brasileiro, integrante do Conselho do Agro da ACSP e vice-presidente de agro das ADVB (de dirigentes de vendas e marketing), foi rapidamente aceita pelos especialistas e entidades empresariais presentes. 

E sinalizou uma mudança no posicionamento do setor produtivo. "Eu queria fazer um desafio para a ACSP, para a ADVB, a Fiesp, para que criassem um observatório de acompanhamento da COP de hoje até o final, com o objetivo de ver o que nós como empresários podemos fazer realmente entre a COP 30 e a COP 31, para não chegar lá se justificando, e sim contando aquilo o que a gente conseguiu apresentar como resultados", propôs. 

A conferência promete avançar em três frentes estratégicas, como regulamentação do mercado internacional de carbono, o financiamento de projetos de adaptação e mitigação em países em desenvolvimento e o fortalecimento das metas de descarbonização, com ênfase na proteção das florestas tropicais, apontou o coordenador do Conselho do Agronegócio, Cesário Ramalho. 

Por ser anfitrião do evento, no caso do Brasil o desafio é duplo, pois passa por consolidar uma imagem de liderança na transição verde e, ao mesmo tempo, lidar com pressões internas vindas de diferentes setores. "Empresas, agronegócio e governo terão de encontrar um equilíbrio entre competitividade econômica e cumprimento das metas de sustentabilidade", destacou. 

Frente a desafios como mudanças climáticas, segurança jurídica e a regularização fundiária pelo CAR (Cadastro Ambiental Rural), além do papel crucial da educação e assistência técnica para pequenos e médios produtores, de acordo com Teresa 'Teka' Vendramini, diretora executiva e ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), a iniciativa seria uma espécie de resposta à percepção de que as empresas não podem apenas reagir às exigências regulatórias. 

"Hoje temos mais de 5 milhões de propriedades rurais no Brasil, fizemos transição para a agricultura verde, o plantio direto, até chegarmos à agricultura regenerativa, ao SAF (Sistemas Agroflorestais)... Tanta coisa já aconteceu, é mostrar o que tem de bom e como melhorar."

Por isso, a ideia do Observatório é mapear riscos, acompanhar métricas e oferecer propostas que conciliem competitividade com responsabilidade climática ao sistematizar dados, avaliar riscos e dialogar com governo e sociedade civil, destacaram os especialistas. A ideia também é oferecer subsídios técnicos e econômicos que ajudem o setor privado a se adaptar e, ao mesmo tempo, influenciar a construção de políticas públicas mais realistas e efetivas. 

Mas tudo isso passa pela urgência da implementação de medidas na própria COP, segundo Plínio Nastari, CEO e presidente da Datagro (consultoria especializada em mercados agrícolas), com definição de critérios de sustentabilidade baseados em ciclos de vida, fundamentais para criar políticas públicas eficazes. Ele também criticou a abordagem simplista de medir apenas "emissões de escapamento", e exaltou a liderança do Brasil em biocombustíveis e energias renováveis, sugerindo que o país deve propor a adoção global de uma reserva legal de 20%.

O cenário também passa pela eliminação ou redefinição do critério de "adicionalidade", que desconsidera os esforços de sustentabilidade feitos por países antes de um marco regulatório (de 2008), mesmo que aumentem significativamente seus resultados. "O Brasil, por exemplo, tem uma matriz energética com 50% de renováveis (e a matriz elétrica em 93%) e substitui 45,6% de sua gasolina por etanol, esforços que não são devidamente reconhecidos", disse. 

Presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, enviada especial do setor empresarial para a COP 30, destacou a importância da mobilização do setor privado para fazer convergir soluções brasileiras, em especial na Amazônia, e assim apresentar o Brasil como 'laboratório de descarbonização' e um 'país de soluções.' 

A especialista também citou a importância de criar protocolos de Economia Circular e de novas metodologias agrícolas, essenciais para medir e planejar ações de sustentabilidade para melhorar a relação agenda climática-negócios. Para ela, a discussão tem de ser técnica como na época do Proálcool, destacou, citando o ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues. 

"(O programa) deslanchou muitos grãos, a soja... Então, ele não só não foi prejudicial, porque mudaram-se regras, mas porque foi preciso fazer um arcabouço regulatório mais aprimorado", disse. "Temos que nos organizar com esse espírito de colaboração, de aproveitar essa oportunidade de coalisão que se desenha na COP 30, para que ela seja um marco diplomático para o Brasil e um divisor de águas na relação entre clima e negócios."

Para Francisco 'Xico' Graziano Filho, sócio-diretor da Graziano Ambiental e ex-secretário estadual da Agricultura e Meio Ambiente de São Paulo, relator da proposta empresarial a ser apresentada para a COP 30, não há produtor rural que investiu em meio ambiente e perdeu, e nem que tenha perdido a rentabilidade. "Pelo contrário, ganhou", disse, citando sua experiência como pecuarista e os resultados de adotar práticas de bem-estar animal, por exemplo. "Há ganhos evidentes de entrar nessa agenda, por isso queremos participar dela", concluiu. 

Roberto Mateus Ordine, presidente da ACSP, se comprometeu a compartilhar o resultado das ações do Observatório. “Tenho certeza absoluta que se nós pudermos levar essa contribuição para os nossos dirigentes, nossos governantes, eles aprenderão muito. Pois, infelizmente, alguns estão lá sem saber o que estão fazendo. O Brasil não merecia isso, mas fomos abençoados com uma natureza maravilhosa, o agro, a energia, temos tudo o que é preciso aqui. Só falta ter juízo para seguir em frente nessa questão climática. Quando o Xico (Francisco Graziano Filho) terminar o relatório, entregaremos a todos vocês.”

IMAGEM: César Bruneli

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