Vale a pena abrir uma loja no metrô?
Especialistas explicam quanto custa, como funciona e quais negócios têm mais chance de sucesso

Abrir uma loja no metrô é estar exatamente onde os consumidores estão: em movimento. Com um público constante e previsível, esse tipo de ponto comercial tem atraído desde marcas consolidadas até pequenos empreendedores em busca de visibilidade e conversão rápida. “Estar no metrô significa estar onde as pessoas estão”, resume Américo José, sócio-diretor da Cherto Consultoria.
O acesso ao espaço comercial varia conforme a região. Em muitos casos, o empreendedor precisa passar por um processo de licitação pública, como explica Lyana Bittencourt, CEO do Grupo Bittencourt: “os editais possuem prazos e condições específicas, onde o vencedor arca com aluguel, condomínio, taxas de publicidade e custos de adequação.”
Já nas linhas operadas pela plataforma de trilhos da Motiva (ex-CCR), o processo pode ser feito diretamente com a área comercial da empresa. Segundo João Pita, diretor da Motiva, “as contratações são realizadas conforme a disponibilidade de cada estação e o planejamento comercial previamente definido”. A concessionária oferece orientação sobre o fluxo de pessoas e realiza visitas técnicas com os interessados.
Valor do aluguel e custos operacionais
Os valores de aluguel variam bastante. Segundo Pita, a Motiva não divulga publicamente, pois dependem de fatores como localização, volume de clientes e tamanho do espaço. Além do aluguel, há custos como consumo de energia e água, taxa de condomínio, manutenção e limpeza das áreas comuns.
No caso da franquia Mikro Market, especializada em mercadinhos autônomos, o investimento inicial gira em torno de R$ 50 mil a R$ 60 mil para montar uma unidade dentro de uma estação do Metrô, enquanto em um condomínio residencial ou comercial, por exemplo, parte de R$ 40 mil, conforme o tamanho e a localização, diz Daniel Yazeji, sócio e diretor comercial da rede.
Que tipo de negócio funciona melhor?
Negócios com alto giro, ticket médio acessível e que ofereçam soluções práticas para o dia a dia são os mais indicados. “Alimentação rápida, bebidas, acessórios e serviços ágeis funcionam bem, assim como produtos de conveniência e compra por impulso”, destaca Lyana.
José acrescenta: conveniência, recarga de celular, serviços simples (como costura, chaveiro, conserto de celular) e produtos práticos para o dia a dia. “Também temos farmácias, clínica médica, serviço como sobrancelhas. O perfil ideal é de quem oferece praticidade, preço justo e atendimento ágil”, diz ele.
Pita diz que não há um perfil específico priorizado pela concessionária para atuar nas estações. Ele conta que existe um planejamento de mix para cada estação, de forma a garantir a sustentabilidade do negócio para os empreendedores. Em geral, ele inclui alimentação, serviços e oferta de produtos. “O segmento de alimentação costuma apresentar alto desempenho. No entanto, temos observado também bons resultados em farmácias e outros tipos de varejo, desde que inseridos em um mix adequado ao perfil da estação”, afirma ele.
A Nutty Bavarian, por exemplo, tem 165 unidades em operação em todo o país, seis delas em estações. A empresa aponta o alto fluxo como essencial para o sucesso. “Nosso produto é comprado por impulso. As estações são perfeitas para isso”, afirma André Novaes Farias, COO da marca.
No entanto, ele alerta que é preciso rever os processos aplicados nos quiosques para estas operações. “Há uma necessidade de ter processos mais rápidos para fazer a venda, isso porque essas pessoas estão com mais pressa, querem entrar rápido nos vagões, então, tivemos que nos adaptar e trabalhar com produtos pré-envasados. Nos aeroportos, por exemplo, o atendimento pode ser mais tranquilo.”
Como escolher a estação ideal
Nem sempre a estação mais movimentada é a melhor escolha. “É preciso entender o perfil do público, a renda, o estilo de vida e a rotina das pessoas que circulam ali”, explica Lyana. A recomendação é visitar o local em diferentes horários, conversar com lojistas e usar dados de geolocalização.
José, da Cherto Consultoria, ressalta que uma boa análise começa observando o entorno da estação: há escolas, faculdades, escritórios ou comércio popular? Isso indica o tipo de público que circula ali. Também é possível consultar dados de fluxo com a administração do metrô, além de observar o comportamento das pessoas.
Para marcas como a Nutty Bavarian, o ticket médio mais elevado exige uma análise ainda mais cuidadosa. “Precisamos avaliar bem o público que frequenta diariamente a estação e em qual bairro ela está localizada”, diz Novaes.
Há oportunidades em todas as linhas operadas pela Motiva, tanto imediatas quanto de curto e médio prazos, de acordo com Pita: Linhas 4, 5, 8 e 9, em São Paulo, Metrô Bahia e VLT do Rio. “Os malls comerciais das estações Vila Sônia (SP), Acesso Norte e Mussurunga (BA), além do TIG (RJ), representam conceitos recentes e oferecem alto fluxo de clientes e boas oportunidades de negócios”, diz o diretor da Motiva.
Quanto fatura uma loja no metrô?
O faturamento depende do tipo de negócio e da localização, mas o potencial é promissor. Uma unidade do Mikro Market instalada na estação Jardim Oceânico (RJ) fatura, em média, R$ 30 mil por mês, com lucro de até R$ 8 mil. Já a Nutty Bavarian relata um faturamento 22% superior nas lojas de metrô em comparação com unidades tradicionais, que faturam cerca de R$ 42 mil.
Desafios
Apesar do alto fluxo, existem desafios estruturais e operacionais. Entre eles estão as limitações de espaço, as regras rígidas de funcionamento e o risco de interrupções no transporte público. “Estações muito movimentadas nem sempre garantem vendas. Baldeações estão cheias de pessoas apressadas que não prestam atenção no que é oferecido”, alerta Novaes.
Para lojas autônomas como o Mikro Market, o furto ainda é um ponto de atenção. “Não é possível operar 100% autônomo. Temos fiscais nas lojas para explicar e inibir roubos”, diz Yazeji.
Vale a pena para quem está começando?
Segundo especialistas, o metrô pode ser indicado tanto para marcas consolidadas quanto para negócios em crescimento estruturado. “O metrô não é nem exclusivo de iniciantes, nem exclusivo de consolidadas, mas de quem entende que estar ali exige eficiência operacional, branding cotidiano e agilidade de conversão”, afirma Lyana.
José complementa: “é uma boa forma de testar o negócio com menor investimento, especialmente em formatos como quiosques ou lojas compactas.”
Franqueados: presença física ainda faz diferença
Para atuar no metrô, o franqueado ideal é aquele que está presente e entende o funcionamento da operação. “Precisamos de franqueados que sejam operadores do negócio, que conheçam a rotina e saibam fazer os ajustes do dia a dia”, reforça Novaes.
No caso da Mikro Market, a experiência também conta. “Preferimos franqueados que já tiveram negócio, porque o ponto exige atenção e a marca fica muito exposta”, diz Yazeji.
Metrô como vitrine e laboratório de negócios
Mais do que ponto de venda, a estação de metrô pode ser um canal de branding. “Coloca a marca no cotidiano das pessoas, ampliando a lembrança sem depender de marketing externo”, destaca Lyana.
Além disso, o espaço pode funcionar como laboratório de consumo. “Permite entender como o cliente reage ao produto em momentos de deslocamento, o que é valioso para negócios que planejam expansão urbana”, completa a CEO do Grupo Bittencourt.
José concorda: “É um excelente canal para validar produtos e depois escalar o modelo para outros pontos.”
Pontos relevantes que o empreendedor deve considerar antes de escolher a estação, segundo Lyana:
- Mapear o fluxo e o perfil do público de cada estação (não são todos iguais);
- Entender horários de pico e se o produto atende ao consumidor nesses momentos;
- Verificar restrições operacionais (estoque, descarte de resíduos, horários de abastecimento);
- Avaliar se a marca tem um modelo de atendimento compatível com alta rotatividade e agilidade;
- Analisar o contrato de locação, que muitas vezes tem regras específicas em estações.
Nem sempre fluxo é igual a oportunidade: é preciso entender qual é o público que circula nas estações. Muitos se encantam com o número absoluto de passageiros, mas é preciso identificar se há aderência ao perfil do público-alvo da marca (renda, estilo de vida, rotina). Para isso, Lyana indica:
- Fazer contagem de fluxo em horários variados;
- Conversar com lojistas da estação para entender o comportamento do público;
- Usar dados de geolocalização e de renda média da região para estimar aderência.
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IMAGEM: Márcia Alves/Metrô SP