Efeito Busca Busca acelera abertura de lojas no Brás e Pari
No primeiro semestre de 2025 foram abertas 926 lojas na região no setor varejista, quase o dobro das inauguradas ao longo do ano de 2024 (474), de acordo com levantamento da Hoff Analytcs

Um dos termômetros de desempenho de um bairro comercial é o movimento de abre e fecha de lojas. Se o saldo é positivo, provavelmente o consumo no local vai bem, e vice-versa.
Considerando esse indicador, pode-se dizer que um dos bairros comerciais mais tradicionais de São Paulo, o Brás, que se desenvolveu com a chegada de imigrantes italianos, vai bem.
Após registrar mais fechamentos do que aberturas de lojas por três anos, 2020, 2021 e 2022, o Brás e o seu vizinho bairro do Pari estão com saldo positivo de número de lojas desde 2023.
No setor de atacado, em 2023, o saldo foi positivo em 329 estabelecimentos, em 2024, em 421 e, no primeiro semestre deste ano, em 237.
Se o número do primeiro semestre deste ano se repetir no segundo, o saldo positivo neste ano deve ser ainda maior do que o do ano passado.
No setor varejista, os números também são positivos, com 215 lojas novas em 2023, 474 em 2024 e 926 no primeiro semestre deste ano.
Os números têm como base dados da Receita Federal e foram levantados pela Hoff Analytics, empresa especializada em colher e analisar dados do ecossistema da construção civil.
De acordo com a Hoff, os bairros do Brás e do Pari possuem 4.695 empresas atacadistas ativas, das quais pouco mais de 2.700 faturam mais de R$ 4,8 milhões por ano.
Pouco mais de mil empresas já faturam de R$ 361 mil a R$ 4,8 milhões por ano e 833, de R$ 81 mil a R$ 360 mil.
No setor varejista, são 16.628 empresas ativas, das quais pouco mais de 3.800 possuem receita maior do que R$ 4,8 milhões por ano.
Pouco mais de 5.000 empresas faturam de R$ 81 mil a R$ 360 mil anualmente e cerca de 2.700, de R$ 360 mil a R$ 4,8 milhões por ano.
O Brás, que começou com a imigração de italianos e, em seguida, de armênios, gregos, bolivianos, hoje está atraindo cada vez mais chineses.
No setor atacadista, das 26 empresas que possuem estrangeiros na sociedade, quase 42% são formados por chineses, 11% por sócios de Bangladesh e 11% por libaneses.
No caso do setor varejista, das 11 empresas que têm sócios de fora, quase 92% têm origem chinesa. Sócios da Indonésia são 8%.
Os descendentes de chineses e de outros países que são sócios de estabelecimentos estão fora desses números, de acordo com Wesley Bichoff, fundador da Hoff Analytics.
Para a Alobrás, associação que reúne os lojistas do Brás, o crescimento do comércio na região está relacionado com o fenômeno Busca Busca, comandado por Alex Ye.
O empresário chinês, conhecido como ‘chefe do benefício’, ficou famoso no TikTok e no Brás ao mostrar a cara e os produtos que comercializa com preços que considera imbatíveis.
A loja fez tanto sucesso que acabou inspirando outros comerciantes a ponto de o próprio Alex levá-los para lotar quatro andares do shopping Plaza Polo, no Brás.
“É o efeito Busca Busca, que levou vários comerciantes para o bairro, muitos deles trazendo produtos importados, desde utensílios domésticos até brinquedos. O chinês trading está fazendo a diferença”, afirma Lauro Pimenta, vice-presidente da Alobrás.
O Brasil, por razões políticas, diz ele, está se distanciando dos Estados Unidos e se aproximando cada vez mais da China, tornando-se um parceiro mais relevante.
“A China tem de escoar os produtos e o Brás está dando essa oportunidade também pela capacidade de comunicação do Alex”, diz.
Fauze Yunes, presidente da Alobrás, lembra também que o bairro está mais seguro, tem mais policiamento e os lojistas estão com uma interlocução melhor com a Subprefeitura da Mooca.
“Estamos percebendo um número maior de pessoas no bairro, além disso, percebemos um equilíbrio entre a venda física e a online. Tem gente que gosta de comprar pela internet, tem gente que gosta de comprar nas ruas e tem gente que gosta dos dois”, diz Yunes.
Os chineses, diz ele, escolheram o Brás para ter os seus negócios, o que acabou atraindo novos comerciantes e consumidores.
“Espero que todo esse movimento não seja pontual e que o bairro continue crescendo, com um final de ano melhor do que o do ano passado”, diz.
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IMAGEM: Milton Mansilha/DC