Clubes de assinaturas acessíveis atraem pequenos negócios

Boxes com produtos de beleza, papelaria, vinhos, flores e até itens para o pet, como o kit da Petiko (foto), são exemplos desse modelo de recorrência que oferece receita previsível e fidelização de clientes. Hoje, 74% dos brasileiros assinam pelo menos um serviço do tipo

Cibele Gandolpho
21/Ago/2025
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Clubes de assinaturas acessíveis atraem pequenos negócios

Receber todo mês, em casa, uma peça garimpada de brechó, um pacote de café especial moído na hora ou um kit de mimos para o cachorro. Pode ser também uma caixa com livros, cosméticos ou itens de papelaria. Tudo escolhido a dedo e por um valor que cabe no bolso — a partir de R$ 19 por mês.

O que antes era território exclusivo das gigantes do streaming, hoje se espalha por brechós, cafeterias, pet shops, papelarias, livrarias, ateliês, entre outros. São os chamados “negócios de bolso”, modelos de assinatura acessíveis que unem conveniência, curadoria e preços atraentes. Com eles, pequenos empreendedores conquistam renda previsível, fidelizam clientes e crescem mesmo em um cenário econômico instável.

Segundo um levantamento da plataforma Betalabs, o mercado de assinaturas em geral no Brasil cresceu 74% nos últimos cinco anos. Hoje, 74% dos brasileiros já assinam pelo menos um serviço – envolvendo produtos físicos, como cosméticos e alimentos, ou digitais e de bem-estar. O gasto médio mensal com assinaturas gira em torno de R$ 225 e 88% dos consumidores afirmam que pretendem assinar novos serviços nos próximos meses.

O apelo é explicado por uma combinação de comodidade, curadoria personalizada e vínculo emocional. Para o consumidor, há a surpresa e o conforto. Para o empreendedor, há previsibilidade de faturamento, menor custo de aquisição de clientes e mais tempo para focar em melhorar a entrega.

Segundo Carolina Lara, fundadora da Lara Visibilidade Estratégica, esse formato permite acesso contínuo a produtos e serviços com menos atrito e maior controle dos gastos, além de oferecer seleção especializada e conforto, especialmente atraentes para o público urbano.

“Além disso, pequenos negócios e microempreendedores também têm adotado o sistema de assinaturas por possibilitar receitas previsíveis e maior fidelização dos clientes, com investimento reduzido em aquisição contínua”, diz.

A digitalização das ferramentas de gestão e automação de cobranças facilita a implementação, que pode englobar tanto produtos físicos quanto serviços.

Do ponto de vista do consumidor, fatores como conveniência, economia e experiência personalizada são decisivos para a adesão ao modelo, que cria vínculos emocionais por meio da recorrência e da sensação de exclusividade.

“Embora o preço acessível seja importante, a entrega de valor agregado e o relacionamento com a marca são diferenciais fundamentais. Para empresas com estruturas enxutas, o modelo também traz vantagens estratégicas como previsibilidade financeira, redução de custos de aquisição e insights para ajustes mais eficientes de produtos e campanhas”, avalia Carolina.

O modelo funciona especialmente bem em setores que envolvem consumo recorrente e personalização — como livros, papelarias, cafés, alimentos artesanais, plantas, cosméticos, produtos para pets e até roupas de moda circular. “O diferencial está em entregar não só o produto, mas uma experiência contínua, com valor simbólico agregado”, pontua a especialista.

Segundo o consultor de negócios e varejo Josemar Duarte, da Duarte Consultoria, a adoção do modelo recorrente pode ser um divisor de águas para pequenos negócios, especialmente os que dependem de movimento de bairro ou vendas irregulares.  “O ideal é que a assinatura gere conveniência e crie um laço com o cliente. Não basta repetir o produto: é preciso agregar valor.”

Para Duarte, a tendência é que esse modelo ganhe ainda mais ramificações. “Microfranquias, serviços presenciais (como aulas, terapias, oficinas), clubes de bairro e plataformas locais devem ampliar o alcance da recorrência como estratégia de venda direta e fidelização”, diz.

Pioneirismo

Pioneira no modelo de assinatura de vinhos no Brasil, a Wine lançou o Clube Wine em março de 2010, quando no país havia 22,4 milhões de consumidores regulares de vinho, segundo dados da Wine Intelligence. “Hoje, esse número ultrapassa os 39 milhões e continua crescendo”, afirma Denise Paolucci Salamondac, Head do Clube Wine.

No início, a assinatura contava com menos opções de planos. Com o tempo, a empresa diversificou o portfólio para atender diferentes perfis de consumidores. “Hoje temos sete opções de planos de vinhos tintos, que variam de acordo com o preço médio das garrafas e características como tintos intensos ou mais leves. Já tivemos clubes para vinhos brancos, rosés, espumantes e, recentemente, lançamos um clube de vinhos suaves e doces para quem não é fã de rótulos secos ou meio secos”, explica.

Denise Paolucci Salamondac, Head do Clube Wine, lembra que o modelo exige cuidado no atendimento, site, aplicativo e logística para reter o cliente

 

O modelo de assinatura, diz ela, é vantajoso não apenas para o mercado de vinhos, mas para qualquer segmento que busque receita recorrente e previsibilidade financeira.

“Conseguimos comprar vinhos em maior escala, muitas vezes a produção inteira de uma vinícola, o que nos garante preços mais atrativos. Isso aumenta nossa margem e permite que o cliente tenha acesso a um vinho melhor pelo mesmo valor que pagaria em uma compra avulsa”, afirma. Além disso, a empresa substitui o custo por venda por um custo de aquisição de cliente (CAC), reduzindo despesas no longo prazo.

Segundo Denise, o assinante é “naturalmente mais engajado e fiel” do que quem compra de forma pontual, mas a retenção exige atenção. “O churn (taxa de cancelamento) é um dos principais indicadores. É preciso cuidar da experiência do cliente — atendimento, site, aplicativo, logística — para manter a satisfação e a fidelidade.”

Atualmente, a Wine soma cerca de 400 mil sócios no Brasil e no México, concentrados nos planos de entrada, com vinhos entre R$ 25 e R$ 40 a garrafa, em sua maioria tintos. A pandemia acelerou o crescimento: “De 2019 para 2020, o número de assinaturas subiu 41%. Desde então, mantemos crescimentos de dois dígitos ano contra ano”, diz.

Para atrair novos consumidores, especialmente jovens e pessoas fora dos grandes centros, a empresa aposta em variedade de preços e presença digital. “Vinho bom não precisa ser caro. Temos garrafas de R$ 25 a R$ 150 no clube e campanhas de aquisição nas redes sociais, incluindo o TikTok, que conversa bastante com a geração mais jovem”, comenta.

O potencial de expansão, segundo Denise, é grande: “Temos 400 mil sócios, mas mais de 40 milhões de consumidores de vinho mensalmente no Brasil. Ainda há muito espaço para crescer”.

Papelaria

Um dos exemplos do crescimento dos chamados “negócios de bolso” é a Paper Heart Box, clube de assinatura de papelaria criativa fundado por uma empreendedora de São Paulo. A proposta é entregar mensalmente uma caixa temática com itens de papelaria colecionáveis e utilitários, pensados para quem ama organização, decoração e escrita à mão.

Com planos a partir de R$ 89,90 por mês, a PHB oferece três opções de assinatura, com envio em todo o Brasil. A versão básica traz pelo menos 10 produtos — como canetas, cadernos, adesivos, estojos, marcadores e blocos de anotações. Já o plano premium, por R$ 129,90, inclui 15 itens e frete grátis para o estado de São Paulo. A versão mais completa, super premium, custa R$ 229,90, com 20 produtos e frete grátis para SP, RJ, MG e PR.

Maquiagens

A Box Magenta e a Glam são dois dos clubes de assinatura de beleza no país que seguem o modelo de envio recorrente de produtos com base no perfil de consumo das assinantes. Embora atuem no mesmo segmento, cada um adota uma estratégia própria para fidelizar clientes e oferecer experiências diferenciadas.

Enquanto a Box Magenta aposta na personalização e em um pacote mais exclusivo, com preços mais altos, a Glam oferece maior variedade de formatos e valores, atendendo desde consumidoras que querem experimentar novidades com menor investimento até aquelas que preferem receber um volume maior de produtos todo mês.

Criada para entregar uma seleção personalizada, a Box Magenta envia mensalmente cinco produtos em tamanho original (não são miniaturas), escolhidos de acordo com o tipo de pele, cabelo e preferências de cada assinante.

Além dos cosméticos, o pacote inclui caixa temática, revista, adesivos, cupons de desconto, programa de pontos e, em alguns meses, brindes extras.  Os planos variam: pacote mensal (R$ 169,90), semestral (R$ 159,90), anual (entre R$ 149,90 e R$ 162,90, dependendo da modalidade escolhida).

A Glam, que já foi conhecida como Glambox, aposta na diversidade de formatos. A assinatura principal, a Glambox, entrega de cinco a sete produtos de beleza, skincare e maquiagem, com valor estimado acima de R$ 240. Já a Glambag inclui de três a quatro itens, enquanto o Glamcombo reúne as duas modalidades em um único pacote. Para quem prefere apenas vantagens e descontos na loja, a marca oferece o Glampass. Os preços variam entre R$ 59,90 e R$ 82,90 no plano mensal, com valores reduzidos em pacotes semestrais e anuais.

No sentido horário, box da Paper Heart, Flower Club; Box Magenta e Leiturinha. Os ‘negócios de bolso’ unem conveniência, curadoria e preços atraentes

 

Pets

A Box Petiko é um clube de assinatura mensal para pets que oferece uma seleção personalizada de brinquedos, petiscos e acessórios, adaptados ao porte, idade e preferências do animal. Cada caixa contém pelo menos cinco itens, com temas variados a cada mês. Os planos disponíveis incluem mensal, semestral e anual, com preços a partir de R$ 81,57 no plano mensal.

Já a Box4Pet oferece planos trimestrais a partir de R$ 69,90 por mês, com cobrança mensal. O conteúdo das caixas inclui brinquedos, petiscos e acessórios, adaptados ao perfil do pet. A empresa também disponibiliza testes genéticos para cães e gatos, voltados para profissionais da área.

Livros infantis

O Leiturinha é o mais conhecido clube de assinatura de livros infantis do Brasil, criado para estimular o hábito da leitura desde os primeiros anos de vida. Com curadoria especializada, o serviço envia mensalmente kits adaptados à faixa etária da criança, promovendo momentos de leitura em família e oferecendo conteúdos complementares para os pais.

O clube oferece três planos principais: o Mini, com um livro por mês; o Uni, que inclui um livro e uma “Surpresinha Leiturinha”; e o Duni, destinado a famílias com até duas crianças, com dois livros mensais. Os preços variam de acordo com o plano escolhido, a partir de R$ 69,90 por mês, com opções de assinatura mensal, semestral ou anual.

Flores

Criada em 2020, no auge da pandemia, a Flower Club nasceu com a proposta de transformar o hábito de receber flores em casa em um gesto de bem-estar contínuo — e não apenas em presentes para datas especiais.

O clube de assinaturas oferece planos semanais, quinzenais ou mensais, com preços que vão de R$ 109 (uma entrega por mês), R$ 199 (duas entregas) e R$ 359 (quatro entregas por mês). Cada assinatura inclui arranjos variados, curadoria especializada e guias informativos sobre as espécies enviadas.

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IMAGENS: divulgação

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