DaColônia pode frear expansão nos EUA e direcionar esforços ao México e UE

As exportações da tradicional fabricante gaúcha de doces cresceram 120% no ano passado, sendo que os Estados Unidos absorvem 20% das vendas externas da marca. Segundo Willian Freitas (foto), diretor da empresa, plano de abrir mercado na Costa Oeste americana pode ser prejudicado pelo tarifaço

Mariana Missiaggia
15/Jul/2025
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DaColônia pode frear expansão nos EUA e direcionar esforços ao México e UE

Há mais de 30 anos, Alba Ferrari, diretora comercial da Facextrade, faz a ponte entre empresas brasileiras e o mercado internacional. Atuando como trade, foi a responsável pela expansão global de marcas como Animale e Farm, assim como a entrada de brasileiros em plataformas de vendas online. Na última semana, porém, seu foco foi outro: acalmar clientes exportadores mergulhados em incertezas diante do anúncio do tarifaço de 50% para as vendas brasileiras destinadas aos Estados Unidos.

“Todos fazem a mesma pergunta: ‘E agora?’. Não há empresa brasileira que consiga se manter competitiva com este aumento, ou que consiga absorver este aumento", diz Alba.

Willian Freitas, diretor da empresa de alimentos DaColônia, concorda. Em 2015, ele, os irmãos e alguns primos, que representam a terceira geração do negócio, impulsionaram um projeto de exportação para 20 diferentes mercados, sendo os Estados Unidos o principal deles. Para o empresário, a taxação é uma ameaça para aqueles que veem na exportação uma forma de expandir a operação.

Hoje, as exportações representam 3,5% do faturamento total da DaColonia, mas vinham ganhando fôlego nos últimos dois anos com crescimento de 120% em 2024, e de 70% no primeiro semestre de 2025.

Para atingir essa curva de crescimento, Freitas conta que, no último ano, manteve um funcionário durante oito meses morando na região de Nova York para estabelecer contatos comerciais e tornar seus produtos conhecidos entre os importadores da Costa Leste dos Estados Unidos.

Em maio deste ano, foi a sua vez de ir até o país para participar de uma feira de negócios e colocar em prática a segunda etapa desse projeto: expandir a marca agora para a Costa Oeste, se aproximar de clientes nativos e ir além do público atual formado por latinos e brasileiros que moram por lá.

Hoje, os Estados Unidos respondem por 20% das exportações da DaColônia, seguido pelo Chile, com 19%. A empresa envia dois contêineres de 40 pés por mês para o mercado norte-americano, com 45 tipos de produtos entre amendoim salgado e doce, paçoca, rapadura, pasta de amendoim e outros doces. A próxima remessa deve ser embarcada no dia 20 de julho e, segundo Freitas, já não há mais tempo para fugir da possível nova tarifa.

Enquanto aguarda a situação se desenrolar, Freitas diz estar em alerta. A principal apreensão é com o impacto negativo da sobretaxa na competitividade dos produtos brasileiros no mercado americano. "Fazendo uma conta rápida, o preço do nosso produto teria que subir, no mínimo, 50%", afirma.

Isso significa que produtos vendidos a US$ 5, como é o caso da pasta de amendoim, poderiam saltar para US$ 7,50, podendo chegar a US$ 8,50 em algumas situações. Segundo o empresário, um aumento que pode afastar consumidores da marca.

Alternativas 

Freitas negocia seus produtos com destino aos Estados Unidos diretamente com três importadores. Desde a última semana, eles têm se falado com maior frequência, e todos estão muito preocupados, diz. Uma das estratégias em estudo é a distribuição das despesas extras, com os importadores absorvendo parte do impacto financeiro da taxação, minimizando assim o repasse ao consumidor final.

Outro caminho seria acelerar a prospecção de novos mercados para diminuir a dependência dos Estados Unidos. O empresário diz que, para mitigar os riscos, planeja reforçar parcerias com mercados vizinhos, como Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai, buscando aumentar o volume de forma imediata.

Além disso, Freitas diz que pretende levar a DaColônia para novos mercados, como o México, e dar um foco maior para a União Europeia, especialmente Espanha e Portugal, que, na visão do empresário, podem se tornar destinos mais seguros e estratégicos frente a um cenário de incertezas.

"Sempre vimos o mercado americano como um porto seguro do livre comércio, agora, nos vemos obrigados a reavaliar nossas prioridades e diversificar os investimentos em exportação”, diz Freitas. "A sensação que fica é que nos Estados Unidos tudo pode mudar. Ainda que essa taxação não se mantenha, em poucos meses seremos atingidos com outras imposições que podem nos tirar do mercado após muito investimento, e isso nos deixa muito inseguros."

Cancelamentos inevitáveis

Alba recorda que, em 5 de abril deste ano, um aumento de 10% já foi implementado sobre as entradas de produtos brasileiros no mercado americano. Essa primeira elevação, segundo ela, já causou um desconforto considerável, forçando as empresas a absorverem o custo adicional ou a repassá-lo aos clientes. Além disso, aponta o desafio de gerenciar pedidos já em produção, com entregas programadas para depois da data de implementação da nova tarifa.

"Embora acordos entre vendedor e comprador possam ser negociados, o custo adicional invariavelmente recai sobre o consumidor final", diz Alba.

Nesse cenário, ela afirma que o cancelamento de pedidos é inevitável, pois reverter vendas para outros mercados não é uma tarefa simples. Tal mudança exige negociações prévias, acordos comerciais complexos e investimentos substanciais em promoções internacionais, processos que demandam tempo e recursos, justifica Alba.

Ela diz que a interrupção parcial da produção, como consequência direta do "tarifaço", pode levar a demissões em massa e ao aumento do custo fixo do produto. Isso, por sua vez, resultaria em mais elevações de preços para o consumidor final. E a situação pode piorar: a reciprocidade nas taxas, cuja lei foi regulamentada por decreto publicado nesta terça-feira, 15/07, no Diário Oficial da União (DOU), pode aumentar os custos de matérias-primas, e elevar ainda mais o preço final dos produtos.

Como medida preventiva, Alba diz não haver outro caminho que não seja a diversificação de mercados, especialmente para empresas com foco concentrado em poucos países. Por experiência, ela diz preferir “abrir todas as frentes ao mesmo tempo". Embora um produto possa ter maior aceitação em uma determinada região, o ideal é buscar a abertura nos cinco continentes, sempre que possível, recomenda.

Toda essa situação pode afetar ainda mais as micro e pequenas empresas que operam no mercado externo. No Brasil, o número de pequenos negócios exportadores cresceu de 5,4 mil, em 2014, para 11,4 mil em 2024. No ano passado, essas empresas foram responsáveis por vendas externas que totalizaram US$ 2,62 bilhões, segundo levantamento do Sebrae, com base nos dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

 

IMAGEM: DaColônia/divulgação

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